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Vigilante: “Cristovam não tem nada de nova esquerda; é de direita mesmo”

O deputado distrital Chico Vigilante (PT) revela aqui, com exclusividade, o que acha do senador Cristovam Buarque (PPS-DF) e do governo Rodrigo Rollemberg (PSB). Diz ainda que o PT errou muito e está acanhado para enfrentar as eleições de 2018. E mais, acusa o juiz Sérgio Moro de destruir o Brasil.
Chico se recusa a apoiar o impeachment de Rollemberg como uma vingança pelo fato de o PSB estar, “com uma visão caolha”, apoiando o processo contra Dilma.

O distrital denuncia uma trama urdida pela direita para acabar com o PT por meio de uma ação judicial seletiva, com a ajuda dos meios de comunicação comerciais e oligopolizados. 

Eis a íntegra da entrevista:

Qual é o futuro do PT?

Chico Vigilante – O PT é um projeto que nasceu muito antes da existência do partido. Enquanto os partidos da esquerda brasileira eram fruto das classes médias, politizadas e letradas, o PT surgiu unindo esses setores da sociedade com operários e camponeses que sempre foram marginalizados. O PT nasceu sendo atacado, por isso não me assustam os ataques atuais.  Eu assisti ao julgamento de Lula pelo Superior Tribunal Militar por ter supostamente instigado a morte de um fazendeiro no Acre; depois vi o julgamento de José Genoíno sendo acusado de ter atirado num policial em Pernambuco. Os dois foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Depois foi o caso do sequestro do empresário Abílio Diniz, quando vestiram a camisa do PT nos bandidos apenas para atrapalhar a eleição de Lula em 1989, e eleger Collor de Mello. Portanto, quem ataca o PT hoje são os mesmos.

Todas essas prisões e processos que você citou ocorreram num outro momento histórico. Hoje, altos dirigentes do partido estão julgados, condenados e presos. Agora temos eleições municipais e o PT tem anunciado que não vai expor seus candidatos como cabeça de chapa. Por que você acha que esse partido das origens está com o futuro garantido?

C.V. – Primeiro, essa estratégia de esconder o PT está errada. O PT não pode se esconder nunca. Se temos hoje governadores, ministros de Estado, promotores, juízes e senadores (cassados) e sendo presos é porque o PT chegou ao poder. Essa lei da delação premiada, com a qual eu nem concordo muito, foi feita pelo governo do PT. Equipar a Polícia Federal e dar autonomia financeira e funcional ao Ministério Público são coisas do PT. No tempo do FHC não tinha menos corrupção, a questão é que agora as coisas estão vindo à tona com liberdade.

Você acha então que o PT está acanhado?

C.V. – Sem dúvida, o PT tem que mostrar o vermelho. O partido tem que mostrar o que ele é e o que ele fez. Desde o Império, quem fez mais do que nós? Ninguém. É claro que o momento hoje é outro. Tivemos um processo de emburrecimento da sociedade brasileira fruto de uma forte campanha midiática no sentido da despolitização. Grande parte da juventude foi para a direita, levada pelos meios de comunicação. Satanizaram a política, as igrejas [progressistas] e, agora, o movimento sindical.

E onde foram parar as grandes lideranças?

C.V. – Pois é, quem são as grandes lideranças da Igreja Católica hoje no Brasil? Aponte uma? Na década de 80 havia pelo menos umas vinte. Eu cito apenas dom Pedro Casaldáliga, Hélder Câmara, Aloisio Lorscheider, Luciano Mendes. Tínhamos grandes juristas renomados como Sobral Pinto. A OAB hoje é uma caricatura do que foi essa entidade. Estamos vivendo um processo de empobrecimento político.

Bem, se há uma satanização do PT é possível defender a sua santificação?

C.V. – O PT é formado de brasileiros e brasileiras. Portanto, é um retrato da sociedade, onde tem gente honesta e desonesta. Eu nunca neguei que há desonestos no PT, a diferença é que temos muito mais honestos do que desonestos e isso é um fato. Nos outros partidos posso dizer que é o contrário. Me aponte um honesto no PMDB, fora o Roberto Requião. Me aponte um que não esteja envolvido com falcatruas no PSDB, no DEM. Estamos numa luta de classes e, para destruir o PT estão potencializando os erros do partido. Eu digo que o principal erro do PT foi ao chegar ao governo comer no mesmo cocho da velha política brasileira.

Você diria que o mais injustiçado do PT é o Zé Dirceu?

C.V. – O Zé um dos injustiçados, mas hoje eu diria que o mais injustiçado é o companheiro Lula, por tudo o que ele fez pelo Brasil. Eu sei da seriedade do Lula no trato com a coisa pública. Há 40 anos convivo com ele. Me lembro do que ele me contou quando foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. O sindicato tinha que contratar um contador e alguém da família quis indicar uma contadora e ele recusou. A família ficou com raiva dele.

Outro fato significativo dessa correção de Lula, que a imprensa nunca lembra, ocorreu quando ele assumiu o primeiro mandato de presidente da República. Uma irmã dele por parte de pai veio a Brasília e começou a procurar emprego nos ministérios. Quando ele soube disso, mandou um comunicado a todos os ministérios proibindo esse tipo de prática, muito comum em nossa política.

Mas o que falam do filho do Lula é pura intriga?

C.V. – Sem dúvida. O que foi que disseram? Que o filho do Lula era sócio da Friboi. Que o filho do filho tinha comprado um jato de não sei quantos milhões.

Mas o que pega é a história de que ele foi beneficiado na abertura de uma empresa de jogos eletrônicos.

C.V. – Quantos jovens abriram esse tipo de negócio? Quantos jovens se deram bem nesse tipo de empreendimento? O fato de ele ser filho do Lula pode ter aberto algumas portas, mas não que o Lula tenha mandado abrir. Eu tenho certeza de que Lula nunca faria isso. Mas você pode lembrar-se da filha do [José] Serra, que começou com uma sorveteria e hoje é uma das maiores fortunas do Brasil, né? Isso ninguém fala.
Eu discordo de muita coisa do Ciro Gomes, mas nisso eu concordo com ele: “O mal do PT é o próprio PT”. Ele diz que o pecador pode pecar, mas o pregador, não.  Portanto, o PT não podia pecar, jamais, e pecou.

Então, quais foram os pecados capitais do PT?

C.V. – O grande pecado foi a falta de coragem de fazer a reforma política nesse país quando Lula tinha uma popularidade incontestável. Sem essa reforma os escândalos políticos tendem a crescer cada vez mais. Eu era deputado federal na época da CPI dos Anões do Orçamento. A Câmara tinha que ter cassado 100 deputados, inclusive um do PT. Naquela lista tinha o Sérgio Guerra, que era do PSB depois foi para o PSDB. O Ibsen Pinheiro foi uma exceção, que caiu porque não se enturmou. Depois veio o escândalo do Collor, que tinha a mesma origem, que são os esquemas das empreiteiras financiando as campanhas. Eu tenho orgulho de ter sido o deputado que derrubou o vice-presidente do FHC, Guilherme Palmeira, acusado de beneficiar as empreiteiras, as mesmas que estão aí hoje. Nessa história também tem uma secretária e um motorista que fizeram a denúncia das manobras financeiras de Palmeira.

Ou seja, nada mudou?

C.V. – Nada. Aliás, piorou. Depois da derrota para o Collor, o PT avaliou que não mudaria o Brasil se não entrasse no jogo do financiamento de campanha. O grande erro foi o seguinte: O PT tinha que ter ganhado a eleição em 2002 e, em 2003, ter feito a reforma política.

Você não acha que também deveria ter feito uma reforma na comunicação?

C.V. – Sem dúvida. O Brasil é o único lugar no mundo onde a mesma empresa pode ser dona simultaneamente de rádio, jornal, revista, televisão, internet etc. É o país do monopólio antidemocrático. Até a Argentina conseguiu fazer uma reforma, mas o Brasil não deu um passo sequer nesse sentido. Essa omissão foi um erro grave dos estrategistas do PT, inclusive do meu amigo Zé Dirceu, que achou que a Globo podia ser amiga da gente.

Mas voltando aqui na diferença entre Lula e Zé Dirceu. Um está sendo acusado por um juiz de obstruir a Justiça, mas o outro está julgado, condenado e preso. Além disso, há outros petistas na fila da condenação judicial. Por que o PT não consegue se livrar dessa situação?

C.V. – O que há é um processo seletivo, de perseguição. A ideia é acabar com o PT. Qualquer um que estivesse na direção do partido seria a mesma coisa. Fosse o Tarso Genro ou qualquer outro. Não é o que acontece com os outros partidos. O Eduardo Azeredo (ex-presidente do PSDB) está com o processo em Minas Gerais, vai morrer e não vai pra cadeia nunca.

Pelo que você está falando o PT paga o pato por ter Dilma Rousseff na presidência? Onde está o erro da presidenta nesse processo político que desembocou no impeachment?

C.V. – Ela está pagando o preço de não entrar no jogo. Ela não quis fazer as composições que exigiam. Os dinheiros das campanhas eleitorais vinham do mesmo balaio. Da Odebrecht, da Mendes Júnior, da OAS. Não havia um balaio da sacristia, consagrado, e outro dos quintos dos infernos.

Mas seria diferente se fosse o Lula o atual presidente?

C.V. – Claro, Lula quando foi eleito viu que não tinha maioria para aprovar seus projetos de governo. Fez composição e governou muito bem. A Dilma não fez composição. Dilma tem ojeriza a determinados acordos e está sendo derrubada só por isso.

Então, nesse caso, ela deveria ter ficado no primeiro mandato. Por que insistiu em continuar?

C.V. – O problema é que Lula é uma pessoa tão desprendida que não quis disputar e ela quis continuar. Esse foi outro erro, ele deveria ter disputado e teria ganhado do mesmo jeito. Eu defendi internamente no PT e fiz parte do “Volta Lula”.

Tudo indica, portanto, que que esse impeachment é fato consumado?

C.V. – Eu não diria que é fato consumado, mas admito que Dilma erra no tempo de tomar decisão. Ela deveria ter ido à cadeia de rádio e televisão, e nas redes sociais, no dia da votação na Câmara, para dar um recado à população sobre o que estava acontecendo e anunciar o envio ao Congresso de um projeto de eleições gerais com a convocação de nova Constituinte.

Sim, mas o PT está indo no sentido contrário.

C.V. – O PT está errando de novo. Há dois anos eu estou dizendo, e escrevendo, que o sistema político brasileiro apodreceu de tal maneira que só com eleições gerais e uma nova Constituinte será possível governar esse país. Caso esse maldito impeachment venha a prevalecer vamos ter a maior crise social na história do Brasil.

O ex-petista senador Cristovam Buarque, hoje PPS-DF, tem dito que o impeachment é bom pro PT. O que você acha disso?

C.V. – Isso só está na cabeça do Cristovam. Esse é um mal de alguns intelectuais brasileiros que depois que passam dos 60 anos parece que ficam doidos. Na verdade, o Cristovam foi para a direita. O pensamento dele hoje não tem nada a ver com o que pregamos junto nas ruas. Ele não tem nada de nova esquerda, é direita mesmo.

O impeachment, se passar, vai atingir o povo lá do interior do Maranhão, que nem sabe o que é isso, mas que vai sofrer as consequências. O impeachment é uma desgraça, é fruto desse sistema secular brasileiro, que sobrevive às custas da exclusão. O impeachment pode até prosperar do ponto de visa do voto dos senadores, mas a sociedade vai derrubá-lo.

O que você acha que pode acontecer? Uma comoção popular?

C.V. – Vai ter um enfrentamento, é diferente de comoção. Esse povo que nunca teve nada, mas que teve direitos conquistados nos últimos treze anos, vai pra rua, não há dúvida.

Vamos aguardar. Na sua opinião, o que vai acontecer com os votos do PT nas eleições municipais? Vão aumentar, diminuir ou manter os mesmos?

C.V. – Eu não faço esse tipo de cálculo. Eu não faço política só pensando em votos. Eu tive um grande amigo que foi governador do Sergipe, Marcelo Déda. Ele ficou em último lugar como candidato a prefeito de Aracaju. Em seguida, deu a volta por cima e ganhou o governo do Estado por duas vezes seguidas. E se estivesse vivo teria elegido o candidato dele. O número de votos interessa à grande mídia, para mim o que importa é a política que o PT vai desenvolver daqui até 2018.

Há alguma possibilidade de o PT ser extinto?

C.V. – O PT não morre, jamais morrerá. O que o juiz Sérgio Moro está fazendo no Brasil é o mesmo que a Operação Mãos Limpas fez na Itália, e o que veio depois? Berlusconi, o que havia de pior por lá.

Moro está destruindo nosso parque industrial e empresarial. Tínhamos uma engenharia de ponta, invadindo o mundo. Os EUA não acompanharam o desenvolvimento do Brasil e precisaram do Moro para destruir nosso país. Estão acabando inclusive com o projeto de Angra, que é o desenvolvimento de nossa tecnologia nuclear, está tudo ameaçado. Prenderam o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro de maneira infundada, ele não é ladrão. E o que me assusta é a calma dos militares que não denunciam essa manobra antinacionalista, O mesmo estão fazendo com a Petrobras. E digo mais, Zé Dirceu não está preso porque é ladrão, mas sim porque é uma liderança, um formulador, o maior estrategista político vivo de nossa história.

O que está acontecendo com o PT no Entorno de Brasília? O partido vai compor com o PMDB para eleger o filho do Tatico em Água Lindas? É isso mesmo?

C.V. – Em termos políticos tenho o Entorno como uma questão perdida para o PT. Não tivemos a capacidade de fazer política, não construímos nada. O PT-DF não ajudou em nada. Não adianta composição com partidos de direita por lá que não vai resolver. Em Luziânia está com o Democratas e com o PMDB, outro erro.

Apesar de sua posição contrária, em Brasília tem gente do PT que insinua compor hoje com o governo Rodrigo Rollemberg.

C.V. – Isso é fato.

Não faz parte das preocupações do partido a possibilidade de o GDF voltar às mãos de rorizistas, arrudistas e companhia sem nenhuma resistência? Não seria viável pensar com composição com o PSB, ou com o PSol, ou até mesmo em lançar um candidato próprio?

C.V. – Brasília é o principal laboratório político a ser analisado. Por que um seguimento que sempre foi de esquerda, como a UnB, está hoje dominada pela direita? Por que a OAB-DF, que sempre se posicionou ao lado dos movimentos sociais, está hoje do jeito que está? Temos que levar em conta que todos os males que existem na política do interior do Brasil estão aqui no DF. É preciso pensar no crescimento do discurso homofóbico no DF. E quem faz parte da nossa classe média? Muitos funcionários públicos bem remunerados que perderam alguns privilégios e começaram a engrossar o coro do combate à esquerda. E ai temos que reconhecer a nossa incapacidade de dialogar com os setores mais pobres que foram beneficiados.

Quando Agnelo Queiroz assumiu só existia uma creche pública no DF, ele construiu 36 unidades. Todas um primor de ensino infantil e funcionando, a imprensa tinha que visitar e constatar o que estou falando. O que Agnelo investiu nas UPAs, nos terminais e corredores viários Sul, e Norte foi bastante significativo. A sua visão futurística com o abastecimento de água ao preparar a interligação de Corumbá IV é outro fato positivo. O problema é que ele não soube se comunicar e se arrebentou na eleição.

E o que temos hoje?

C.V. – Uma direita organizada que pode reunir arrudistas, rorizistas e seus subgrupos, incluindo ai o Tadeu Filipelli, por um lado. Por outro, temos o PSB de Rodrigo Rollemberg, o PT, o PSol e a REDE, que ainda não se definiu o que é.

O problema do Rollemberg é que ele tem um governo sem rosto, é um projeto que ninguém sabe o que é, por isso pode acabar ficando isolado. Por tudo isso, eu aposto na reconstrução do PT, mas não defendo que o partido vá para a base de Rollemberg ocupando cargos quando a população já disse que não nos quer governando. A população nos mandou para a oposição e é isso o que devemos fazer com responsabilidade.

Caso a ideia do impeachment de Rollemberg prossiga na Câmara Legislativa, o PT vai apoiar?

C.V. – Eu não vou admitir nenhum tipo de sacanagem contra o Rollemberg. Essa é uma opinião pessoal, não discuti isso com o PT. É claro que se houver algum erro, vamos apurar e punir. Essa proposta de impeachment é uma armação na qual eu não posso embarcar só porque o PSB, numa visão caolha, está apoiando o processo contra Dilma. Remédio de governo ruim é eleição. Esse é um processo pedagógico.

E a presidência da Câmara Legislativa?

C. V. – Primeiro, nós não vamos aprovar processo de reeleição aqui. Vamos analisar uma chapa que represente um novo comportamento do Legislativo do DF.

Quem o PT apoiaria para presidente?

C.V. – Tem vários nomes surgindo ai. Vamos ver quais são as propostas. O PT está fora da Mesa Diretora, inclusive com a ajuda de Rollemberg, mas queremos voltar a participar dela. O governador quis que apoiássemos a Celina Leão para ficar com a vice-presidência e isso eu não aceitei. Eu não defendo um cargo, eu defendo a política. Se Rollemberg tivesse apoiado o Joe Valle teria sido ele. Agora ele está sentindo os efeitos da decisão de apoiar Celina Leão, que era a líder de seu governo e agora é sua principal opositora.

Dizer que o governo Rollemberg é ruim todos dizem, inclusive a direita. O índice de aprovação dele é baixo. Mas o PT tem como apontar quais são os erros do governo Rollemberg?

C. V. – Claro, é um governo que não tem gestão. Vou citar a saúde, que está um caos. A ideia de transferir a gestão dos hospitais para as OSs é um absurdo, não apoio e já disse isso a ele. Ele tenta dizer que o Hospital da Criança e o Sara Kubitscheck são exemplos. Mentira. Isso não tem nada a ver com OS. Eu estava na Câmara quando o Campos da Paz enfrentou o Serra e aprovou orçamento direto da União para gerir o Sara sem passar pelo Ministério da Saúde.

A segurança piorou, e muito. Eu digo que não se faz segurança com filosofia. Filosofar é muito bom em outras áreas.

O transporte piorou sensivelmente. Rollemberg não teve a capacidade de completar o projeto, com integração a ponto de fazer o usuário sentir vontade de andar de ônibus e deixar o carro em casa.

A questão do desenvolvimento econômico é um desastre. O PT entregou o governo com 90 mil empregos na construção civil. Agora está reduzido a oito mil porque as obras estão todas emperradas, o governo está parado, não funciona, não libera alvarás de construção nem os habite-se. É o caos estabelecido. Há um prédio com 200 apartamentos no Gama que está fechado há dois anos. Os proprietários pagaram e não conseguem receber a obra por falta de habite-se.

Enquanto Rollemberg tiver na direção do Ibram uma pessoa com a visão da atual dirigente, seu governo não vai para canto nenhum. Quem está lá é uma militante da REDE [Jane Maria Vilas Bôas], que emperra tudo.
Agora, a direita não é solução para Brasília, que fique claro isso.

Essa base, então, não sustenta o governo Rollemberg?

C. V. – Ele não tem base, é uma geleia. Minha posição dentro do PT é no sentido de impedir que se faça sacanagem contra o governo dele, o que seria mais prejudicial a Brasília. Mas eu não defendo reivindicar cargos.

Você acha que Rollemberg vai morder a língua por ter criticado o PT e apoiado, indiretamente, o impeachment?

C. V. – Já mordeu. Agora ele depende da gente. O impeachment dele precisa de 16 votos, sem o PT não haverá esses 16 votos.

E essa CPI da Caesb, do que se trata?

C. V. – Tem um pessoal da Caesb em processo de negociação salarial, que está emperrada por inabilidade do governo. Por causa disso, eles estão colhendo assinaturas para pedir uma CPI, mas eu não sei se isso vai prosperar. É mais uma pressão dos trabalhadores.

Você está acompanhando a crise na SPU-Brasília depois da nomeação de um indicado do senador Hélio José?

C. V. – A SPU administra terras da União no DF, como Vicente Pires, Itapoã, Lago Oeste. Colocar na direção dessa entidade uma pessoa indicada pelo senador Hélio José, que eu conheço, sei quem é, conheço o DNA, por um voto a mais no impeachment da Dilma, é baixar de tal maneira o nível da política brasileira, que dá nojo. Isso não vai dar certo, Vamos ficar de olho, fiscalizando 24 horas por dia.

O que falta para o PT se preparar para 2018?

C.V. – Depois do aperto que tivemos em 2014, a melhor coisa que a direção nacional deveria ter feito era admitir que a coisa não estava boa e decidir pela renovação das direções do partido em todos os níveis. As direções atuais estão vencidas. Deixar essa mudança para 2017 é uma temeridade, deveríamos ter feito isso em 2015. O PT-DF vive de fantasias, dizem os dirigentes que temos 40 mil filiados em Brasília, isso não é verdade. Pode até ter mais gente que se diz petista.

Eu divido o PT assim: Tem a direção, que eu chamo de Estado petista, a burocracia; e temos a nação petista, filiados e simpatizantes, que está na rua e se vê representada pelo partido. 

Quando vem a eleição a nação vai pra rua, se agiganta, ganha o confronto, e depois o estado petista captura tudo e fica de posse dos resultados. Eu sonho com o dia em que a nação petista invada o estado petista. Nesse dia as coisas vão mudar. 

Por Romário Schettino  do Blog Brasiliários