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UM MUNDO SEM GUERRAS NEM FRONTEIRAS

A imagem que chocou o mundo mostrada pelo Le Monde – um rastro vermelho no piso da redação do jornal Charlie Hebdo durante o atentado terrorista de sete de janeiro – nos remete a uma reflexão: a única saída da humanidade é se unir contra a barbárie e o primeiro passo neste sentido é entender que o principal inimigo é aquele que fomenta conflitos.

Que religiões, filosofias, líderes políticos ou economistas saberia dizer como acabar com as guerras globais e suas táticas terroristas se no atual estágio do capitalismo a conquista pelo poder e a concentração de riquezas nas mãos de poucos é a mais visível das realidades?

A cena do sangue derramado, que não mais faz pulsar o coração de grandes cartunistas e jornalistas franceses, nos leva a concluir que ali foram assassinados sem a mínima condição de reação ou defesa cidadãos-jornalistas-artistas, cabeças brilhantes que conquistaram o mundo com seu trabalho, e acima de tudo, seres humanos merecedores de respeito, quaisquer que fossem suas profissões ou origens.

Um dia depois, perto de cinco milhões de pessoas já haviam adicionado em suas páginas pessoais nas redes sociais a expressão “Je suis Charlie”, ou similares, numa demonstração inequívoca de protesto contra o terrorismo, a violência, a discriminação, a censura, e pela defesa incondicional da liberdade de expressão.

Outros quatro milhões de pessoas lotaram as ruas de cidades francesas para caminharem juntas contra a barbárie. Os mortos do Charlie Hebdo, olhando do céu, certamente enxergaram a maior e mais linda despedida da história da humanidade, ao som de Imagine, canção criada por John Lennon, há 43 anos, na Inglaterra.

Nomeada pela Broadcast Music Incorporated como uma das cem músicas do século XX, os manifestantes usaram todo o seu fôlego para cantá-la: …Imagine se não houvesse países; é difícil de acreditar; nenhuma razão pela qual se matar ou morrer; nenhuma religião também; Imagine todos os povos vivendo a vida em paz…

A mensagem de Lennon após quatro décadas, duas delas em um novo século, nunca foi tão atual, e necessária. A internet derrubou muros e fronteiras, mas não as crenças em razões para matar e morrer na vida de muitos povos.

Outras tantas vozes pelo mundo enxergaram que a questão tem um caráter muito mais global do que apenas religioso e postaram nas redes sociais Je suis pas Charlie.

Na verdade, temos razões e deveríamos entoar mais e diariamente, a canção Imagine, porque ao que tudo indica o caminho a ser trilhado até a realização deste sonho será longo e árduo.

Os responsáveis pelo ato de terrorismo na França já estão mortos, mas seu grupo se multiplica em vários países, inclusive com a participação de jovens ocidentais, o que é motivo de preocupação não só para as autoridades européias mas para todos nós.

O que leva a juventude ocidental a optar pela violência e pelo pior tipo dela, o terrorismo, aderindo a grupos como a Irmandade Mulçumana? Certamente, fraca formação cultural, falta de perspectivas e, obviamente, o apoio financeiro recebido em troca.

A emoção que tomou conta de milhões de franceses e cidadãos de todo o mundo contra um ato de terrorismo em Paris- uma das mais belas e visitadas cidades do mundo- deveria se voltar também para a tragédia que toma conta há anos de países como o Afeganistão, a Líbia, o Iraque, e mais recentemente a Síria.

Todos nós que cantamos “Imagine um mundo onde todos vivessem em paz” devemos tentar entender porque numa Síria onde cristãos e mulçumanos viveram em harmonia por anos e anos, agora sofrem uma sangrenta guerra civil?

Ela é resultado de uma divisão artificial fomentada por mercenários pagos por países como EUA, Arábia Saudita, Israel e Katar, em nome de um Exército Livre Sírio, que, na verdade, não é Exército, não é livre, nem muito menos sírio, pois conta com mercenários de 29 países, fato este reconhecido pelos governos de origem de muitos deles.

Um mundo sem fronteiras está sendo criando pelo capital internacional que estende suas garras, não coincidentemente, para regiões ricas em recursos naturais, financiando e fomentando o fortalecimento de grupos, como a Irmandade Mulçumana, para determinados fins de acordo com seus interesses.

Desestabilizam-se governos contrários aos interesses de potências como EUA, Arábia Saudita e Israel para a instalação no país de “forças de paz” com o apoio de aliados que garantirão a presença ou a ação de empresas multinacionais para explorar as riquezas do país invadido.

São inúmeros os documentos na internet, vídeos e informações oficiais, publicadas inclusive pela grande imprensa européia, dando conta do treinamento e movimentação de mercenários no Oriente Médio. Sabe-se que muitos dos mercenários que se encontram hoje na Síria, lutaram antes na Líbia, no Iraque e no Afeganistão.

Um vídeo em língua espanhola no Youtube, divulgado no site do Comitê de Solidariedade pela Luta do Povo Palestino, mostra que apenas entre janeiro de 2012 e abril de 2013, cerca de 90 aviões militares dos EUA transportaram mercenários para receberem treinamento militar e doutrinamento ideológico no Katar, Pasquistão, Iêmen, Chechenia, Jordânia, Líbia, por meio de organizações de fachada para ajuda a estrangeiros nestes países.

Em manifestações nos EUA soldados do Exército americano portaram cartazes como “Presidente Obama, não entrei para o Exército americano para ir lutar com seus mercenários numa guerra civil na Síria”. Ou seja, as evidências de que por trás da violência estão razões econômicas e de dominação e não apenas questões de fanatismo religioso estão ai pra quem quiser pesquisar. Só não enxerga quem não quer.

 

Na canção Imagine Lennon diz também: você pode dizer que sou um sonhador mas não sou o único a sonhar este sonho. Ele, um visionário, que pregava a paz e a não violência, talvez soubesse que sua canção, conhecida em todo o mundo, seria um dia entoada por multidões, não apenas um dia, mas cada vez mais nos difícies tempos deste século XXI.