Trabalhadores protestam contra o golpe em sessão especial do Senado

A homenagem ao Dia do Trabalhador no Senado Federal se transformou em um ato contra o golpe à democracia, em curso no país. Durante a sessão especial, proposta pelo senador Paulo Paim (P-RS), realizada na manhã desta segunda-feira (02), diversos oradores se revezaram para afirmar que um possível impeachment da presidenta Dilma Rousseff culminará com o retrocesso aos direitos trabalhistas, adquiridos ao longo de décadas, especialmente nestes últimos 13 anos do governo PT.

O vice-presidente da Casa, o senador Jorge Viana (PT-AC), abriu a homenagem relatando o histórico de luta dos trabalhadores pelo Brasil e pelo mundo. Ele também criticou o PL 4330/2004, conhecida como a Lei da Terceirização, que pretende precarizar as leis trabalhistas no país. Para Viana, é necessário que não se retirem direitos dos trabalhadores, mas, sim, que tenham outros avanços, como acabar com o trabalho escravo.

O senador do Acre fechou a sua fala lamentando o momento difícil da política brasileira, e disse não acreditar em uma avaliação justa da presidente. “Porque o próximo governo já está sendo montado antes do resultado do julgamento”.

O deputado distrital Chico Vigilante (PT) também assumiu a tribuna para denunciar o momento de retrocesso social e político que o país está vivendo. Vigilante se somou ao senador Jorge Viana ao lembrar que, como a história mostrou ao longo dos anos, os trabalhadores serão os principais prejudicados caso haja um afastamento da presidenta Dilma.

Para isso, o deputado citou como exemplo, a proposta da Terceirização, que tramita no Senado Federal, como um dos principais retrocessos aos direitos trabalhistas. Ele aproveitou o momento para também criticar o documento do PMDB, intitulado “Ponte para o Futuro”, que prevê, entre outras medidas, retirar o país da crise econômica, que o negociado vai prevalecer sobre a lei. “Isso é um crime porque nós estamos falando de um país onde a atual legislação trabalhista ainda não é respeitada”, disse o parlamentar.

“Nós estamos falando de um país que tem trabalho escravo, de um país onde se nega a pagar o salário mínimo. Como é que o negociado vai prevalecer sobre o legislado, se os sindicatos não têm liberdade de negociação”, disse.

“Se fizer uma greve, vai demitido. Se ameaçam uma greve tem que chamar o interditório proibitório, que é a pior desgraça que a justiça já inventou”, disse Vigilante.

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Para o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores, Willian Clementino, o Dia do Trabalhador deste ano foi um dos piores já presenciados pela classe, em que a democracia está sendo ameaçada. “É uma ameaça a nós trabalhadores que construímos este país no dia a dia, onde já não podemos ser homenageados por aqueles representantes da classe trabalhadora”, disse.

“Saiba aqueles que estão querendo mexer em nossos direitos, que o amanhã não será as flores como eles imaginam. Nos aguardem, pois estaremos nas ruas defendendo os nossos direitos”, completou Willian.

Representando a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, o juiz do trabalho, Grijalbo Coutinho, também cobrou isenção da justiça diante da crise política e social que o país atravessa. “Crises econômicas não podem pôr em xeque as garantias do estado social”, enfatizou. O juiz também criticou o PL da privatização, pois, segundo ele, representa “reduzir os custos do trabalho, dividir e fragmentar os trabalhadores”.

Ao final da sessão, o senador Paulo Paim afirmou que o 1º de Maio deste ano foi de tristeza porque estão “atacando covardemente a democracia”. Paim defendeu a honestidade de Dilma e disse que a presidente, a seu pedido, não enviou a reforma da Previdência ao Congresso, mas que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, constituiu um grupo de trabalho para reformar a Previdência Social. “Se acontecer o pior, nós teremos na presidência da República o senhor Eduardo Cunha? Eu duvido que o povo brasileiro queira isso”, afirmou.

Além de sindicalistas e apresentantes da sociedade civil, manifestaram-se ainda contra o impeachment os senadores Donizeti Nogueira (PT-TO), Telmário Mota (PDT-RR) e Regina Sousa (PT-PI).