O cenário de destruição e de abandono da saúde pública no Distrito Federal está chegando a níveis de países miseráveis. Enquanto o GDF gasta mais R$ 1 milhão em passagens e diárias para destinos no exterior, insumos básicos faltam no estoque e aparelhos descartáveis estão sendo reutilizados nos hospitais da rede pública de saúde do DF.
A denúncia chegou às mãos do deputado Chico Vigilante (PT) por meio de servidores que relatam uma situação de colapso total e de desespero enfrentada nos hospitais do DF.
“Essa é a falência completa do Sistema de Saúde Pública do Distrito Federal. Enquanto secretários de governo ficam realizando viagens, gastando dinheiro público, sem nenhuma necessidade. Quantas pessoas devem ter morrido em razão desse descaso do Governo?”, questiona o parlamentar.
O deputado anuncia que, na segunda-feira encaminhará expediente endereçado ao Ministério Público, na Promotoria de Direitos da Saúde, solicitando providências.
Os profissionais do Hospital da Ceilândia fazem um relato indignado, sem esperança e de causar pavor aos cidadãos do DF. No almoxarifado do hospital faltam insumos imprescindíveis e indispensáveis para a realização de um atendimento básico aos pacientes brasilienses.
“É tão grave, que todos os funcionários rezam, todos os dias, para não precisarem do atendimento que eles próprios prestam. Não por falta de competência. Mas por falta de estrutura”, relata um servidor que não deseja se identificar.
Os profissionais contam que os próprios profissionais chegam a chorar por não terem condições de atendimento. Na UTI Neonatal, está faltando o ventilador que trata as doenças respiratórias dos recém-nascidos. Por muitas vezes, médicos e enfermeiros chegam a pedir para sair do atendimento.
“Um profissional de extrema necessidade e em falta na secretaria de Saúde confessou a possibilidade de não voltar nos próximos plantões por frustração de não conseguir exercer a profissão com responsabilidade”, esse foi o relato de um profissional de Enfermagem retratando a angústia de um pediatra do hospital. Um dos maiores problemas de gestão da Secretaria de Saúde é que não há número suficiente de pediatras para atendimento nos hospitais e centros de saúde.
Falta de tudo no HRC
A lista de insumos e dispositivos em falta no Hospital Regional da Ceilândia é absurda e, ao mesmo tempo, assustadora.
Está faltando, por exemplo, um dispositivo chamado de Equipo que, na verdade, é uma espécie de mangueira que conecta o soro na veia dos pacientes. Este material está sem previsão de abastecimento do estoque. No mercado, esse dispositivo custa entre R$1,50 e R$2,50.
Esses dispositivos têm que ser trocados a cada 72 horas para evitar infecção hospitalar. No entanto, os profissionais relatam que este protocolo de ação não está sendo seguido e não há equipo nem para novos pacientes que serão internados. No caso de alimentação parenteral, a cada dieta ministrada, tem que ser utilizado um equipo novo. “Este dispositivo está sendo reutilizado. O que quebra todo o protocolo de proteção do paciente para profilaxia de infecção”, relatam os profissionais.
Os profissionais relatam, ainda, que os novos pacientes que chegam ao HRC não estão recebendo alimentação parenteral, devido à falta destes dispositivos.
“A Enfermagem trabalha na arte do improviso, mas com a falta desses insumos, não tem nem como improvisar. Não há o que usar no lugar do equipo, por exemplo. Não tem. A situação está muito grave, mesmo”, revelam.
Em época de clima extremamente seco, os pacientes com problemas respiratórios se multiplicam nas emergências. No entanto, tanto os doentes acometidos com crise respiratória aguda, sejam internados ou os que chegam na emergência, não conseguem receber uma simples nebulização pois não há no HRC o kit necessário para a inalação.
Antibióticos
Há também falta de antibióticos no HRC. Não há nos estoques um medicamento chamado Ciprofloxacina, potente antibiótico receitado para combater infecção urinária, casos de pneumonia e outras infecções.
O ciclo de administração aos pacientes destes antibióticos é de sete a dez dias ininterruptos. No entanto, com a falta deste remédio, vários pacientes têm o uso descontinuado durante o período, acarretando um quadro de resistência ao antibiótico pelo próprio micro-organismo combatido.
“É degradante. Na verdade, é revoltante. É muito triste o que está sendo feito com a população do Distrito Federal em momento tão frágil como a falta da saúde. O paciente chega na unidade de saúde e adquire problemas mais graves”, relata.
A lista não para. Está em falta coletor de urina de sistema fechado utilizado em pacientes que necessitam a utilização de sonda de urina com coleta externa. Esse coletor deve ser esvaziado diariamente e trocado a cada 15 dias, como determina o protocolo médico para evitar o quadro infeccioso. No entanto, também este protocolo não está sendo seguido no hospital. Também, está em falta o cateter de sondagem vesical, dispositivo utilizado nas sondas de urina.
A situação é tão calamitosa que até mesmo cirurgias estão sendo canceladas por falta de compressas.
Faltam compressas de gaze do tipo queijo utilizadas em procedimentos cirúrgicos de médio e grande porte para contenção de sangramentos e que pode ser substituído por outro tipo de gaze. Faltam, até mesmo, fios de sutura de Nylon 2.0 e 5.0.
“São necessárias providencias. Porque não podemos assistir diariamente ao noticiário pacientes morrendo por falta de responsabilidade e pelo descaso do Governo. É muito triste a gente querer prestar um serviço de qualidade e ser tolhido por não ter condições”, desabafa o profissional.