Eu sempre disse e repito. O afastamento de Dilma e a tomada do poder por Temer foi um golpe articulado pelas elites deste país e seus tentáculos no Parlamento, no Poder Judiciário e na grande mídia comercial.
Os indícios se repetem a cada dia nos últimos dois anos. O mais repugnante deles foi tomado nesta segunda, 22/8, pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, suspendendo a delação premiada de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS e dos ex-diretores da empresa.
A Operação Lava Jato foi a mais vazada da história. Por que então apenas uma, a de Léo Pinheiro, da OAS, foi suspensa ? Por que não todas as demais ?
Esta é a pergunta chave que devem se fazer todos os brasileiros preocupados com os destinos do Brasil.
A alegação de Janot de que suspendeu as negociações para o fechamento da delação porque houve vazamento, ou na linguagem jurídica quebra de confidencialidade” é uma imoralidade, é cuspir na cara do brasileiro e chamá-lo de burro.
Todos os grandes jornais deste país fizeram a festa durante todo o tempo que culminou no início do processo do impeachment da presidente Dilma com vazamentos de depoimentos ocorridos na Operação Lava Jato.
E creio eu que os jornalistas e seus editores não precisavam nem mesmo agir como urubus na carniça em busca de informações. Elas lhes chegavam frescas e servidas em bandejas de prata. Tudo bonitinho.
As acusações de Delcídio do Amaral, Sérgio Machado e Ricardo Pessoa entre outras contidas em delações premiadas, por exemplo, foram utilizadas pela mídia à vontade antes dos três se livrarem da cadeia.
Por que Janot que sempre fez vista grossa para vazamentos da operação Lava Jato suspendeu esta delação e não as demais já ocorridas ?
Obviamente porque ela contém denúncias pesadas contra Michel Temer, José Serra, Aécio Neves, Gedel Vieira Lima, entre outras figuras centrais da direita na luta pelo poder no Brasil.
Recentemente, o site Antagonista, contrário ao PT e, em geral, simpático ao PSDB, afirmou que teve acesso à delação premiada de José Adelmário Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS e que sua delação faria revelações sobre desvios nas obras da Cidade Administrativa, em Minas Gerais, que enterraria politicamente Aécio Neves para sempre.
Por que as denúncias contra Aécio Neves, o inconformado perdedor das eleições presidenciais de 2014, não chegam a lugar nenhum ?
Desde maio de 2016, Rodrigo Janot pediu dois inquéritos contra Aécio: um sobre propinas em Furnas e outro relacionado a uma operação-abafa na CPI dos Correios. Onde estão ?
Em junho, a colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, noticiou que o nome de Serra consta de uma lista de 100 políticos sobre os quais a empreiteira OAS prometeu dar informações detalhadas de contribuições para campanha eleitoral, no âmbito das negociações para fechar um acordo de delação premiada.
Quantas vezes cabeças pensantes e honestas deste país, inclusive eu por mais de uma vez, denunciamos os vazamentos como estratégia da direita para colocar na cadeia os petistas, derrubar Dilma e interromper o projeto político do PT e das esquerdas deste país?
Pois aí está. Quando a prova do crime se aproxima da elite poderosa que ocupa na prática a posição de comando em vários poderes deste país, forja-se uma razão para a destruição dos indícios.
O terremoto que está causando a delação da OAS no seio da direita demonstra que o conteúdo dos depoimentos de Leo Pinheiro e os ex-diretores da OAS mostram o mapa da corrupção daquele lado e suas ramificações no STF.
Por que Gilmar Mendes ficou tão enfurecido com a notícia da revista “Veja” afirmando que Pinheiro citou o ministro Dias Toffoli, do STF, em conversas para fechar a delação?
Se a menção fosse frágil não existiriam motivos para elevar a um nível tão alto a tensão entre a mais alta corte do país e a Operação Lava Jato, que ao se calar sobre o assunto, suscita mais especulações a respeito.
Se a decisão de suspender a delação da OAS for mantida sob a alegação de que houve vazamento, todos as outras delações da Lava Jato, em torno das quais ocorreram ilegalidades ou quebras de confidencialidade deverão também ter o mesmo destino- serem suspensas e tornadas inválidas – assim como as decisões delas decorrentes, julgamentos e condenações.
A Lava Jato terá que recomeçar do zero e ser passada a limpo.
CHICO VIGILANTE
Dep. Distrital pelo PT/DF
