Antes do impeachment de Dilma Temer disse que iria unir e pacificar o país. De salvador da pátria até agora ninguém viu nada.
A crise institucional cresce, os poderes se degladiam, a sociedade testemunha em pânico um país onde a cada dia direitos políticos, sociais e trabalhistas são desrespeitados.
A grande mídia comercial que até pouco tempo defendia com unhas e dentes todos aqueles unidos pelo ideal comum de tirar o PT do poder, vem definindo preferências, como que seguindo um roteiro mais refinado dentro do golpe.
Fez espalhafato em torno da ação da Polícia Legislativa e tomou partido do ministro da Justiça e da presidente do STF, ministra Carmen Lucia em suas críticas ao presidente do Senado, Renan Calheiros.
Na Globonews, a apresentadora Renata Lo Preti qualificou como destempero as críticas de Renan à prisão do diretor da Polícia do Senado e ironizou: ontem piromaníaco, hoje bombeiro, ao comentar sua declaração de que “não quero que esta centelha se transforme num incêndio “.
Está claro que a Globo, assim como a Veja sentenciou há algumas semanas, decidiu que Renan é a bola da vez, logo após Eduardo Cunha.
Qual será o jogo agora? uma tentativa de mostrar à sociedade que indo pra guilhotina as duas mais importantes cabeças do Congresso, a corrupção vai acabar e poderão então salvar os demais ali babas e seus 200 ladrões?
Sem eles Temer nada faz, fica mais difícil levar adiante seu plano de entrega do país e de desmonte das conquistas sociais e trabalhistas. Sem pacificar a PF, acalmar a Lava Jato, e afagar o STF ele próprio Temer pode ser o Cunha de ontem e o Renan de hoje.
A verdade é que aquele sonho de Temer de unir e pacificar o país, está cada dia mais distante da realidade. Mesmo que ele consiga isso entre seus parceiros da direita, a sociedade brasileira continua a cada dia mais dividida entre os que enxergam o roteiro de poder das elites e os que se deixam enganar.
Um marco nesta percepção por parte da sociedade dos desmandos de Temer são as manifestações contra a reforma na educação, a PEC 241 de congelamento dos gastos públicos por 20 anos, dentre eles educação e saúde.
Temer e sua estapafúrdia mudança tem colocado em risco a vida de milhares de jovens que protestam como podem os absurdos.
Enquanto um congresso entreguista aprova em segunda votação pela Câmara a PEC 241, mais de mil escolas de todo o país são ocupadas por estudantes que enxergam o que o governo finge não ver.
Além de se manifestarem contra esta tragédia anunciada, os estudantes brasileiros se colocam veementemente contrários à reforma do ensino médio proposta pelo governo federal por meio da Medida Provisória 746/2016.
Estudantes contrários à PEC ocupam, segundo dados recentes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – Ubes, 1022 escolas e institutos federais, 82 campi universitários, três núcleos regionais de Educação, além da Câmara Municipal de Guarulhos.
Parece irônico que exatamente o Paraná – berço da Operação Lava Jato, onde todo tipo de vazamento seletivo ocorreu para prejudicar o PT – seja o estado que lidera o número de escolas ocupadas, 846 unidades, conforme a Ubes.
Vizualizado por milhares de internautas no Brasil inteiro o discurso de Ana Julia, estudante secundarista, do Colégio Estadual Senador Manoel Alencar de Guimarães, para os deputados na Assembléia Legislativa do Paraná em defesa das ocupações, mostra o altíssimo grau de compreensão política dos adolescentes que participam das ocupações.
As imagens dos semblantes dos deputados mostram o impacto que as palavras de uma menina de 16 anos causavam em suas conciências.
Escolhi parte de seu longo e belo discurso para que a sociedade brasileira siga o exemplo de luta do movimento estudantil na luta por um Brasil melhor.
Ana Júlia disse:
De quem é a escola, a quem a escola pertence ? Acredito que aqui todos sabem esta resposta. E é com a confiança de que conhecem esta resposta que falo aqui sobre a legitimidade e a legalidade deste movimento de ocupação das escolas.
Convido vocês a consultarem o inciso sexto, do artigo 16, da lei 8.069. Se após isso ainda duvidarem da legitimidade do nosso movimento eu convido os deputados a nos visitar nas ocupações.
É um insulto aos estudantes e professores que estão se dedicando em defesa da educação serem chamados de doutrinados.
Nossa dificuldade em formar um pensamento é muito maior do que a de vocês. Nós temos que ver tudo o que a mídia publica, fazer um processo de seleção, de compreensão pra daí a gente decidir sobre o que seremos a favor, sobre o que seremos contra. Mesmo assim erguemos a cabeça e estamos lutando. É difícil. Não é fácil lutar.
Nossa bandeira é a educação. Nossa única bandeira é a educação. Somos um movimento apartidário. Somos um movimento dos estudantes pelos estudantes, que se preocupa com as próximas gerações, com a sociedade, com o futuro do país.
Que futuro terá este país se não nos preocuparmos com uma geração de pessoas que não podem desenvolver senso crítico? um senso crítico político. Temos que ser contra o analfabetismo funcional, grande problema no Brasil de hoje. É por isso que ocupamos as nossas escolas.
Estamos contra a medida provisória. Sim, ela está prevista na Constituição mas para casos emergenciais. Sabemos que precisamos de uma reforma no sistema educacional mas queremos uma reforma debatida com a sociedade e feita por profissionais da área de educação. Uma mudança sobre a qual todos estejam de acordo. Esta proposta do governo tem muitas falhas e com ela o Brasil está fadado ao fracasso.
Somos também contra também a lei da mordaça, a escola sem partido. Uma escola sem partido é uma escola sem senso crítico, uma escola racista, uma escola homofóbica. Falar de escola sem partido pra nós é querer criar um exército de não pensantes, que ouve e abaixa a cabeça. E nós não somos isso. Em pleno século 21, o escola sem partido nos humilha.
O Eca nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes é da família, da sociedade e do Estado. Por isso convido vocês a nos visitar e ver nosso desgaste psicológico durante estes dias.
Apesar disso tudo somos acompanhados pela felicidade porque uma semana de ocupação nos trouxe mais conhecimento sobre política e cidadania que enfileirados em aulas padrão. Estamos felizes porque deixamos de ser meros estudantes e nos tornamos cidadãos comprometidos com os destinos de nosso país “.
Em Brasília, me uno à luta dos estudantes que ocupam o Gisno Asa Norte, o CED 01 de Planaltina, o CEM Elefante Branco Brasília Brasília, o CEM Setor Oeste, o CEM 111 Recanto das Emas, o CEM 304 Samambaia, o IFB Campus Samambaia, o IFB Campus Estrutural, o IFB Campus São Sebastião, o IFB Campus Planaltina e o IFB Campus Riacho Fundo.
CHICO VIGILANTE
Deputado distrital pelo PT/DF