Ergam-se, vigilantes! 

Tive o privilégio de participar da 17ª conferência nacional dos vigilantes. Enquanto escutava atentamente os comentários sobre a CUT, uma lembrança maravilhosa me veio à mente. A CUT possui 40 anos de história, e eu, com meus 69 anos, tive a honra de participar de sua fundação. Fui um dos primeiros a integrar a diretoria da CUT. Mesmo vivendo em tempos sombrios da ditadura, compreendemos a necessidade de nos rebelarmos para derrubá-la e reconquistar nossos direitos. Para nós, vigilantes, essa luta era de extrema importância.

Naquela época, o pagamento dos uniformes era de nossa responsabilidade, o FGTS não era depositado pelas empresas e nem sequer sabíamos o que isso significava, pois nunca víamos esse valor em nossas contas. Não tínhamos nenhum tipo de seguro de vida e, infelizmente, era comum que os vigilantes fossem demitidos por justa causa em todo o país. Além disso, a maioria das empresas era comandada por coronéis, tenentes e outros militares, o que resultava em um ambiente autoritário e opressor. Era uma verdadeira ditadura, onde não tínhamos voz ativa e qualquer tentativa de organização era rotulada como terrorismo, especialmente se tivéssemos inclinações políticas de esquerda.

Nós conseguimos estabelecer nossas organizações e durante o período de 1979 a 1985, quando a ditadura chegou ao fim, lutamos e conquistamos nossos direitos. Obtivemos reajustes salariais acima da inflação para compensar as perdas que sofremos, não tivemos mais que pagar pelos uniformes, obtivemos seguro de vida e conquistamos a garantia de um adicional de risco de vida correspondente a 30% do nosso salário, graças às lutas da esquerda. Infelizmente, nos acomodamos e permitimos que a direita influenciasse a mente da nossa categoria.

Qual seria o motivo que leva um vigilante a apoiar a direita? Seria o suposto direito de possuir uma arma? Os salários mal conseguem garantir o sustento mensal das famílias, então como poderiam comprar uma pistola? Colocaram em risco todos os direitos conquistados pela categoria em troca do direito de adquirir uma arma. Essa extrema direita sanguinária, que não foi um projeto originado no Brasil, mas sim gestado no mundo, afirmava em quais países eles iriam ganhar as eleições. Eles venceram na Ucrânia, nos EUA, no Equador, e em todos esses países houve uma influência no judiciário e no Ministério Público. Foi assim na Argentina, no Equador e no Brasil, quando colocaram o presidente Lula na prisão. Todos nós sabíamos que o presidente Lula não era um criminoso. Ele poderia ter fugido, mas preferiu enfrentar tudo e provar sua inocência. 

Algum trabalhador conseguiu benefícios durante o governo do Capitão Capiroto? Infelizmente, no caso dos vigilantes, a resposta é um grande não. Eles perderam sua aposentadoria especial, tiveram suas discussões salariais anuais prejudicadas, com acordos abaixo da inflação, e sofreram com a reforma trabalhista. É impressionante como a extrema direita consegue manipular a mente das pessoas tão habilmente. Os vigilantes enfrentaram perdas significativas, como cortes no adicional noturno e no pagamento de domingos e feriados, resultando em uma perda total de 5.400 reais para cada vigilante. Infelizmente, o debate foi focado apenas no imposto sindical – 67 reais anuais – fazendo com que os trabalhadores acreditassem que estavam sendo beneficiados, quando na verdade estavam sendo prejudicados.

Isso acontece porque nós acabamos deixando de fazer o dever de casa. As categorias precisam se engajar em um debate político, mas não no sentido partidário. Já pararam para refletir sobre o que teria acontecido com a classe trabalhadora se Capitão Capiroto tivesse permanecido no poder? Por pouco isso se tornou uma realidade, já que bilhões foram gastos em sua campanha eleitoral, quase levando o país à ruína. Insatisfeito com o resultado, ele tentou armar um golpe! É importante que os trabalhadores tenham consciência de que, em 8 de janeiro de 2023, ocorreu um golpe neste país. Felizmente, os americanos já haviam derrotado Trump, o que impossibilitou a sustentação desse golpe. A maioria dos militares brasileiros não apoiou essa ação, sabem por quê? Porque tinham ciência de que o golpe não seria aceito mundialmente e que isso traria consequências para eles.

É imprescindível que nos unamos e nos mobilizemos para evitar que situações como essa se repitam. Enfrentaremos inúmeras adversidades devido à presença da extrema direita, por isso é fundamental que tenhamos conversas sinceras e olho no olho. Embora seja bom estarmos conectados via WhatsApp e redes sociais, são nossos relacionamentos pessoais que farão a diferença. Devemos encorajar nossa categoria, afinal, somos a maioria! Deixem que nossas vozes ressoem com ousadia!

Por Chico Vigilante