Segundo mais bem votado do Distrito Federal para a Câmara Legislativa do DF (CLDF), o deputado distrital Chico Vigilante (PT) assume no próximo domingo (1º) seu quinto mandato como distrital (cargo equivalente ao de deputado estadual) e sétimo como parlamentar (já foi por duas vezes deputado federal). Petista desde a fundação da sigla e um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), nem por isso ele deixa de ter uma visão crítica em relação aos eventos da posse e à escolha dos ministros – postura que sempre adotou ao longo da sua vida pública.
Nesta entrevista, concedida inicialmente para a TV Brasília e o jornal Correio Braziliense – e depois reproduzida por outros veículos – ele demonstrou sua opinião sobre vários temas do cenário político nacional e distrital, cujos trechos principais selecionamos abaixo:
COMO O SENHOR AVALIA ESSAS ORGANIZAÇÕES DE BOLSONARISTAS AMEAÇAS DE BOMBAS E PROTESTOS CONTRA O FUTURO GOVERNO?
CV: Estamos vivendo um momento muito grave no Brasil, de ameaça de terrorismo. As pessoas estão se escondendo em áreas militares para ficar a todo o instante clamando contra a Constituição. Eleição se perde e se ganha e quem ganhou desta vez foi Lula. Esse pessoal quer implantar o caos. Os casos da bomba que foi desmontada neste final de semana e dos artefatos encontrados na cidade do Gama (DF) foram gravíssimos. No primeiro, a bomba nas imediações do aeroporto de Brasília provocaria uma grande tragédia. E os artefatos achados no Gama, segundo o bolsonarista detido iriam ser jogados na subestação de energia, ou seja, iriam deixar sem luz populações de várias cidades do Distrito Federal.
O QUE O SENHOR ACHA DOS CUIDADOS QUE ESTÃO SENDO REFORÇADOS PARA A POSSE DE LULA?
CV: Sei que os ministros e governador disseram que estão empenhados em fazer o melhor, mas se eu fosse o presidente Lula, que é meu amigo e meu compadre, não desfilaria em carro aberto para a cerimônia de posse. Faço esse apelo público a ele. Preferimos um Lula vivo e fazendo um bom governo, chegando para ser empossado num carro fechado do que um presidente que desfila em carro aberto. Da mesma forma, também sou contra esses shows que estão sendo organizados. Não acho que seja o momento e os considero desnecessários. Temos uma grande diferença de 2003, ano da primeira posse de Lula, para hoje. Naquela época, a o governo foi passado para Lula por um sociólogo democrata, o Fernando Henrique Cardoso, que se emocionou e disse que tinha orgulho de entregar a faixa presidencial a um trabalhador metalúrgico. Hoje temos um presidente desqualificado, sem falar que Jair Bolsonaro cultua uma mente terrorista há décadas. Isso precisa ser bem avaliado”.
O GOVERNO FOI ELEITO POR UMA GRANDE FRENTE AMPLA. HAVERÁ ESPAÇO PARA ABRIGAR TODOS OS ALIADOS?
CV: Lula precisa transferir a vitória que ele teve por meio de uma frente ampla para o seu governo, o que só pode ser feito dando espaço a todos para que o próximo governo também seja visto como uma grande frente ampla. Sou petista desde a fundação do partido e acho que o PT precisa ter essa grandeza de atender a todos os que apoiaram o presidente nas últimas eleições.
E QUANTO À SITUAÇÃO DA SENADORA SIMONE TEBET? QUAL SUA POSIÇÃO A RESPEITO?
CV: Acho que estão demorando demais para definir a situação da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Somente pelo gesto inicial dela, depois do 1º turno das eleições, ao declarar que apoiava Lula porque escolheu ‘caminhar pelo lado da democracia’, Simone já merece todos os méritos.
COMO VÊ A CHAMADA DO ATUAL MINISTRO DA JUSTIÇA, ANDERSON TORRES, PARA VOLAR A SER SECRETÁRIO DE SEGURANÇA DO DF?
CV: Sou contrário a isso, mas sou líder da oposição ao governo do DF e não tenho como interferir. Não sei por que o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) quer trazer de volta para o seu governo um ministro da Justiça que tem o cheiro e o jeito do bolsonarismo. No caso dos ônibus e veículos que foram queimados no começo do mês, no centro de Brasília, por exemplo, se o ministro fosse outro, teria atuado de imediato, anunciado nomes dos delegados da Polícia Federal que iriam atuar amplamente na investigação do caso. Em vez disso, Anderson Torres afirmou que a PF iria “acompanhar” o caso. Acompanhar não é o mesmo que atuar nas investigações.
ISTO SIGNIFICA QUE A RELAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL COM O GOVERNO DO DF VAI SER DE CONFRONTOS?
CV: Não. Os futuros ministros Rui Costa (Casa Civil) e Wellington Dias (Ação Social) são muito amigos do governador e acredito que teremos uma relação institucional muito boa e respeitosa. Brasília tem mais de 100 representantes diplomáticos, abriga as sedes dos Três Poderes e é vitrine do mundo. Se a gente quer novamente o mundo olhando para o Brasil, precisa cuidar bem dessa vitrine que é Brasília e todos nós estaremos empenhados nisso.
O QUE O SENHOR ACHA DAS ARTICULAÇÕES QUE ESTÃO SENDO FEITAS PARA OS MINISTÉRIOS?
CV: As decisões estão sendo tomadas pelo presidente Lula que todos sabem que é bom negociador e tem um jeito próprio de decidir. Estou seguro de que ele saberá fazer as melhores escolhas. Sobre a definição para os ministérios como um todo, eu tenho indagado aos amigos do PT que ficavam falando que Simone Tebet não poderia assumir a pasta da Ação Social porque ela poderia se lançar candidata à presidência daqui a quatro anos. Minha pergunta é? e se o próprio Lula vier a decidir por ela, como sua candidata em 2026? Não sabemos o que acontecerá até lá. Temos que observar as composições que vão ser feitas nacionalmente e no DF. A única coisa que não poderemos permitir é que a extrema direita volte a governar o país.