Cristovam, você não quer que seus alunos cuspam em você, quer?

Senador Cristovam,

Há dois anos te escrevi uma carta. Nela fazia uma reflexão sobre sua trajetória no PT, sobre todas as batalhas que travamos juntos, da sua eleição ao governo do DF, da acusação de receber R$200 mil da empreiteira Odebrech para sua campanha de 1994, da cassação de seus direitos políticos.

Em todos os momentos difíceis o PT esteve presente para te defender, te dar a mão e seguir adiante.

Eu pessoalmente, no Congresso Nacional, era a voz solitária e incansável na defesa de seu governo, quando o president FHC te humilhava de todas as maneiras.

Naquela carta te lembrei das várias ocasiões que isso aconteceu, como quando seu amigo, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, mandou um projeto terrível para o Congresso, e apesar de terem maioria pra aprovar, só para humilhar o PT, exigiram o voto de pelo menos um deputado petista, sob a ameaça de caso contrário não liberariam os recursos destinados ao GDF.

Mais uma vez, fui para o sacrifício e votei com eles. Na ocasião, fui ameaçado de ser levado pra Comissão de Ética pelo PT, pelo que havia feito pra defender o sucesso do seu governo, uma gestão petista.

Naquela carta eu falava de minha decepção por seu apoio à campanha de Aécio Neves apesar de seu conhecimento sobre o significado para o Brasil de um governo neo liberal e entreguista como foram os de FHC.

Hoje, volto a te escrever, professor, quando a maioria de seus ex-alunos e eleitores estão ansiosos aguardando sua decisão.

Certamente se perguntam como o senhor votará ao saber de tudo que veio a tona sobre os políticos que apoiam o golpe após as últimas votações do processo do impeachment na Câmara  e no Senado.

Como por exemplo:

 

–      que o PMDB de Michel Temer recebeu R$ 10 milhões de caixa dois em 2014, segundo a Revista Veja em material sobre a delação da Odebrecht;

–      que o PSDB de Aécio Neves e José Serra recebeu R$ 23 milhões, em 2010, segundo o jornal Folha de São Paulo, pagos no exterior, razão, em tese, suficiente para a cassação do registro do PSDB;

–      que Serra já deu todos os sinais de que pretende entregar o Pre-Sal e que o processo já se iniciou;

–       que outros grandes partidos que apoiam o golpe como o DEM e o PP  também receberam recursos de empresas investigadas na Operação Lava-Jato e  sobre  eles a justiça brasileira não parece nem um pouco preocupada.

–      que os movimentos sociais de direita que participaram ativamente das manifestações de rua pelo impeachment foram financiados por organismos internacionais interessados em tirar o PT do poder;

–      que a Força Tarefa da Operação Lava Jato esperou que se passassem dois anos e cinco meses após seu início  – praticamente até o fim do processo de impeachment de Dilma Rousseff – para que as investigações chegassem ao PMDB e ao PSDB, os dois grandes partidos que, ao lado do PT, estiveram no comando da política brasileira desde a redemocratização do país.

–      Que os mais variados vazamentos de conversas telefônicas ou gravaçoes de conversas entre politicos peemedebistas e tucanos e sua turma deixam claro que a montagem do golpe foi algo cuidadosamente articulado para derrubar o PT, impedir que os reais corruptos da elite brasileira acabem na cadeia, além de garantir a volta deles ao poder.

Professor, vou te fazer um último pedido, por toda a nossa história de luta juntos, no passado.

O escritor Fernando Morais declarou que vai devolver o prêmio recebido no governo Cristovam porque não quer ter nada oferecido por golpistas.

Baseado nisso o senhor disse à imprensa que estava até então em dúvida mas este fato o motivou a votar pela aceitação do impeachment de Dilma nesta fase final no Senado.

Professor, pelo amor de Deus, procure uma desculpa melhor ou vote como a maioria dos eleitores brasileiros votaria.

Se acredita que Dilma não tem condições de governar, lidere uma campanha por eleições diretas, por um plebiscito, ou por uma Assembleia Nacional Constituinte para as reformas que o país necessita, mas não vote pela manutenção de uma farsa.

O senhor deveria discutir com a população no campo das ideias, honrar o seu currículo de professor, reitor e senador e não jogar seu nome da lama contribuindo para a manutenção no Palácio do Planalto desta quadrilha que lá se instalou.

Professor, se seu voto for a favor do golpe de Temer, Cunha, Serra e sua turma, o senhor nunca mais terá paz de espírito, nunca mais caminhará tranquilamente pelo país.

Por onde passar ouvirá gritos de “ golpista, traidor da pátria, vendido”. Seus ex-alunos cuspirão em você. Sua mulher, seus filhos e seus netos, com certeza, terão vergonha de sua história e não vão querer ser vistos do seu lado.

Ainda há tempo para refletir. Se o senhor professor, sua excelência senador, votar pela continuidade do golpe – que não se engane, está apenas começando – de nada lhe adiantará se arrepender depois, será também responsável pelo explosivo caos politico e social no qual o país mergulhará.

De nada adiantará dizer que não está do lado de lá, o do grande capital, o das elites deste país, o da grande mídia comercial familiar, que tanto te massacrou, quando nós do PT te defendíamos.

Se votar para a retirada de uma presidente eleita por 54 milhões de votos sem nenhum crime comprovado, o senhor será cúmplice do crime maior. Será, claramente, e por opção, um deles, igual a eles e, portanto, é assim que a história registrará sua imagem.

Chico Vigilante

Dep. Distrital pelo PT/DF