As eleições municipais de 2016 e as gerais de 2018 farão emergir uma nova classe de “políticos” apolíticos, cuja principal característica é ser, a priori, antipetista.
Muitos desses novos representantes do povo surgirão resultado da realidade imposta no Brasil pré e pós impeachment de Dilma Rousseff.
Neste momento o roteiro do golpe incluiu a pregação da vilanização dos partidos políticos, principalmente do Partido dos Trabalhadores, e da visão distorcida de que o exercício da política não é um elemento positivo aglutinador da sociedade mas sim um divisor de classes, criador de conflitos e violência.
A direita e seus candidatos tem um discurso muito menos programático e muito mais recheado de pontos considerados por eles como qualidades: antipetismo e antipolítica.
Em artigo recente o colunista da Folha, Bernardo Melo Franco, afirma que em São Paulo foi exatamente o antipetismo que criou Dória e que afora ser contra o PT ninguém sabe muito bem o que ele fará se for eleito, além de privatizar parques, corredores de ônibus e até cemitérios municipais.
Realmente, quem ouve o candidato à prefeitura de São Paulo, João Dória, discursar, vê a imagem perfeita deste novo político, apolítico: não sou político, sou empresário, afirma ele como se o pensamento guardasse um trunfo.
Visto como trampolim para Geraldo Alckmin na trilha do antipetismo para 2018, o candidato João Dória, deixa claro de que lado está.
Em declaração recente ele a afirmou: Venho para ajudar a consertar, junto com as pessoas de bem, como o governador Geraldo Alckmin, que se Deus quiser, com a nossa força e a nossa vitória, vai ser conduzido, sim, à Presidência da República em 2018”. Liderada pelo governador Geraldo Alckmin, a candidatura de João Dória. com 13 partidos tem o maior tempo de teve, o que lhe confere grande vantagem.
Não se enganem, entretanto, os desavisados. Alkimin e Dória são golpistas. O governador tucano usou dinheiro em 2014 e 2015 para fazer anúncios em revistas do pré-candidato tucano à Prefeitura de SP.
Como pagamento, Dória organizou uma festa para os tucanos em Nova York, onde falou sobre impeachment de Dilma. Recentemente também convidou o juiz Moro, com todas as despesas pagas, para dar uma palestra no Lide. Todos caminhando juntos.
A tendência de criminalização da política com a ascensão de empresários engajados com ideais antidemocráticos ao poder me lembra Silvio Berlusconi na Itália e a famosa Operação Mãos Limpas.
Colocado entre os investigados desde o início, saiu ileso e tornou-se primeiro-ministro da Itália três vezes, por um período de 9 anos.
O principal magistrado da operação italiana, Antonio Di Pietro, recentemente reconheceu a Operação Mãos Limpas como prima irmã da Operação Lava Jato no Brasil, em proporção e momento político.
Ele aponta o poder de Silvio Berlusconi – proprietário do império italiano de mídia Mediaset; bancos; empresas de entretenimento; e presidente do AC Milan– como resultado direto da Operação Mãos Limpas.
Sobre o saldo da operação para a Itália o juiz é enfático : “A investigação foi incompleta e o país não mudou. No ano 2000, apenas quatro de todos os acusados estavam cumprindo sentença e 40% dos processos contra parlamentares foram anulados”.
Alguma semelhança com a tentativa recente da Câmara dos Deputados de aprovar um projeto de anistia aos corruptos do Congresso Nacional brasileiro ?
Tudo isso deve servir de alerta para nós hoje. Nem todos que estão sendo colocados contra a parede sairão perdedores.
Nem todos os citados e processados pela Operação Lava Jato serão presos e devolverão o produto de seus roubos aos cofres públicos, como deveria acontecer.
Aquilo que eu imaginava e temia começa a se concretizar no Brasil. A exemplo do que aconteceu na Itália, aqui a Operação Lava Jato contribuirá para acabar efetivamente com os partidos, cassar as lideranças petistas e fazer com que oportunistas defensores das elites deste país retomem o poder e instalem o retrocesso social, econômico e político.
Se não reagirmos rapidamente, tomando as ruas contra este governo golpista e sua trama de liquidação do patrimônio do país e abolição de direitos trabalhistas históricos, estaremos permitindo a criação de um novo Berlusconi no Brasil.
CHICO VIGILANTE
DEP. DISTRITAL PELO PT/DF