O deputado distrital Chico Vigilante (PT), em entrevista ao Blog Edgar Lisboa, faz uma análise da situação do PT hoje. Disse que nenhuma instituição no Brasil, seja partido ou igreja resistiria ao que o PT vem enfrentando até agora. “O partido enfrentou uma destruição midiática”. Denunciou que está existindo um processo de satanização da política no Brasil.
Sobre financiamento de campanha Vigilante assinala que o grupo que quer continuar dominando tenta mudar alguma coisa e muda para pior. “Agora, apresentaram como uma grande panaceia este negócio de não ter mais financiamento privado. Eu sou contra o financiamento privado”. Alerta que o que aparece hoje na contabilidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não é nem um terço do que foi gasto nas campanhas ilegalmente através de caixa dois. Avalia que saúde no Brasil é difícil porque é o único país do mundo que tem saúde universal.
A educação tem que ser unificada nacionalmente. Tem que ter diretrizes de base da educação que tem que valer para o país todo. Faz críticas fortes ao ministro Mendonça Filho: “A medida que você têm um ministro ignorante que é ligado aos colégios privados e não entende de educação pública no Brasil, a tendência é piorar mais a qualidade da educação no país”, sentencia. Defende como transporte em Brasília, o BRT e os grandes corredores como solução. Ressalta que ao metrô é muito caro.
Crítico da Câmara Legislativa afirma que os deputados distritais devem dar o exemplo porque “nós somos novinhos.” Diz que não faz pré-julgamento antecipado mas espera que todas as denúncias contra os parlamentares da Mesa da Câmara sejam apuradas. E quem for culpado, pague pelo quem fez.
Chico Vigilante chama atenção e denuncia que o crime organizado está entrando na política brasileira. Tanto é que estão entrando porque estão descobrindo que é mais fácil, mais cômodo, botar representantes deles na política do que ficar trocando tiro com polícia.
No Maranhão, segundo o parlamentar petista, aconteceu uma situação muito grave: criminosos montaram uma estrutura criminosa de financiamento de campanha. Eles chegavam numa cidade faziam uma avaliação, verificavam o potencial da cidade, mediam o potencial das candidaturas e financiavam o candidato. Depois, eram as empresas deles que tinham que executar as obras para recuperar o dinheiro que tinham gasto.
Quanto as denúncias da deputada Liliane Roriz (PTB) contra alguns distritais, acha que ela “fez um bem, danado á sociedade”. Com relação ao comportamento dela na Câmara Legislativa, “eu tenho dito que as pessoas não podem condená-la, nem execrá-la por ter feito as denúncias.”
Chico Vigilante defende o afastamento dos deputados denunciados para que seja feita a apuração das acusações.
O grande desafio, a curtíssimo prazo, na opinião de Vigilante é provar que a Câmara Legislativa tem, utilidade. “Vai chegar um dia que o povo vai pedir o fechamento da Câmara Legislativa. Eu acho que é melhor tem uma Câmara com problemas do que não ter nenhum espaço de democracia no Distrito Federal.”
Íntegra da entrevista do deputado Chico Vigilante (PT-DF)
Deputado vamos iniciar com os resultados das eleições que não foram favoráveis ao PT. Petrobrás, impeachment com afastamento de Dilma Rousseff. Como o senhor vê o futuro do partido dos Trabalhadores a partir de agora?
Eu tenho dito que nenhuma instituição no Brasil, nenhum partido, nenhuma igreja resistiria ao que o PT resistiu até agora. Portanto, depois de tudo o que foi feito com esse partido, a destruição mediática, grandes meios de comunicação, Globo e outras trabalharam o tempo todo a dissolução do PT. E o PT ter sobrevivido eu acho quase um milagre. E isso mostra efetivamente que esse partido não vai acabar nunca. Tem um outro detalhe interessante que eu acho importante a gente pontuar. O PT ganhou as eleições de 2002. Lula assume 2003. As últimas eleições que nós disputamos como oposição, foram as eleições municipais de 2002. Então, se você fizer um levantamento com dados numéricos doa resultados com dados do Superior Tribunal Eleitoral, nós agora, em 2016, termos voltado novamente a condição de oposição, nós ficamos melhor do que em 2002 quando a gente era oposição pura contra tudo e contra todos naquele momento.
Em nove capitais os vencedores foram “ninguém”. Como o senhor classifica esta situação?
Está existindo um processo de satanização da política no Brasil eu já disse isso numa entrevista a você. Será muito perigoso pois não existe democracia, sem partido. Não existe democracia sem eleições e a partir do momento em que as pessoas se negam a participar do processo de eleições é a negação da democracia. Outro fenômeno que aconteceu no brasil é que com a ditadura militar de 64 que terminou em 85 com toda a barbaridade que tinha sido cometida por eles, a direita na verdade estava camuflada. A direita, a gente sabia que ela existia mas ela não se apresentava. Para mim, o primeiro sintoma claro da direita tirando a camuflagem e se apresentando de cara limpa foi a partir da eleição de 2014 quando nós verificamos ter acendido a luz amarela (eu alertei isso no interior do PT), pois quando nós tivemos um coronel da Polícia Militar, responsável pela tortura, aqui em Brasília, sendo uma coronel de direita, sendo o mais votado, quando nós tivemos um capitão do Exército, que é o Bolsonaro, como o mais votado, no Rio de Janeiro, quando nós tivemos o Russomano que é uma pessoa camuflada que ninguém sabe se é direita, se é centro, ele é de direita conservador, sendo o mais votado em São Paulo, delegados de polícia, por mais respeito que eu tenho ás instituições, tem delegados e esquerda, mas um delegado de direita aqui em Goiás sendo o mais votado. No Rio Grande do Sul, a mesma coisa. Portando, tinha que ter ascendido a luz amarela da esquerda brasileira e ver que alguma coisa de errado estava acontecendo. E que estava na hora de a gente se atentar para essa realidade. Isso é muito grave porque um país com as características do nosso, um país com a desigualdade, se a direita volta novamente vão ter que implantar uma ditadura pois você não consegue governar numa democracia se você não atender minimamente os anseios da maioria. Só voltam a governar utilizando a força. Pergunto: hoje tem clima para um regime de força?
Sobre o financiamento de campanha. Eu diria, por exemplo, que para o segmento evangélico fica mais fácil, pois já é um financiamento de pessoas físicas. Então o que pode acontecer em 2018 é ter mais deputados evangélicos eleitos?
A primeira campanha que eu participei foi em 1986.Infelizmente de 86 pra cá as coisas só tem piorado. Cada mudança que fazem na legislação eleitoral muda para pior. É que geralmente, o grupo que quer continuar dominando tenta mudar alguma coisa e muda para pior. Agora, apresentaram como uma grande panacéia este negócio de não ter mais financiamento privado. Eu sou contra o financiamento privado quero deixar claro. Apresentaram isso como a solução de todos os problemas. Não foi. Hoje mesmo estava conversando com um companheiro que esteve acompanhando uma eleição no interior do Piauí e ele me disse: Chico, não mudou nada. Desta vez é que compraram votos mesmo. Portanto teve candidato a vereador comprando voto por R$ 500,00 (quinhentos reais). E ele viu o dinheiro sendo pago. O que aparece hoje na contabilidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não creio de que seja nem um terço do que foi gasto nas campanhas ilegalmente através de caixa dois. Caixa dois está vindo de onde? Mais uma vez do bolso de quem sustenta a ilegalidade.Com uma gravidade: é que (tem que atentar para isso), o crime organizado está entrando na política brasileira. Tanto é que estão entrando porque estão descobrindo que é mais fácil, mais cômodo, botar representantes deles na política do que ficar trocando tiro com polícia. Estão financiamento campanha. Isso está acontecendo no Brasil e isso é grave. Os candidatos têm que atentar para essas coisas. Lá no meu Estado, no Maranhão, aconteceu uma situação muito grave que era de criminosos montaram uma estrutura criminosa de financiamento de campanha que eles chegavam numa cidade faziam uma avaliação daquela cidade (chamados agiotas), faziam a avaliação do potencial da cidade, mediam o potencial das candidaturas e financiavam o candidato. Depois, eram as empresas deles que tinham que executar as obras para recuperar o dinheiro que tinham gasto. Portanto, se querem fazer a coisa direito, se querem mudar efetivamente, só tem uma solução: é o financiamento público, exclusivo, financiado cada centavo pela justiça eleitoral. Como é que se dá isso? Financia as campanhas, licitação pública para preparar o material de campanha, com contabilização correta para que não tenha nenhum material clandestino. Se vai gastar com gasolina, licita os postos com o controle absoluto do estado. Fora disso, é balela, é falácia e o poder econômico e agora mais grave, clandestino e criminoso vai mandar nas eleições.
A situação dos Estados é cada vez mais grave. Como o senhor vê essa situação também no Distrito Federal?
Vou lhe dar um exemplo com dois fatos. Os Estados Unidos têm uma dívida interna infinitamente maior do que a nossa. A dívida interna dos EUA é colossal. Ninguém fala dessa dívida interna. Aqui no Brasil colocam a situação da dívida interna, colocam que os Estados estão quebrados, exatamente, para não prestar serviços aquelas camadas mais humildes da população. Esse arranjo que estão fazendo agora no Congresso Nacional com essa PEC 241 (teto de gastos) é um negócio criminoso porque é retirar o pobre do orçamento. O Lula tinha colocado o pobre no orçamento. Só se faz justiça social se o pobre estiver dentro do orçamento brasileiro. Portanto, a retirada do pobre do orçamento é voltar o pobre ao estado de miséria que ele vivia anteriormente. Quando falam dos problemas sociais do governo especialmente do presidente Lula, eu fico questionando: sou filho de uma família do interior de Pernambuco que migrou para o Maranhão por causa da seca. Minha vó falava da grande seca de 30 quando teve os que chamavam de flagelados que eram homens e mulheres que pegavam um saco e iam na cidade grande saquear os mercadinhos para levar comida para casa. Os programas sociais do governo Lula, nós atravessamos agora uma seca que foi a mais intensa seca dos últimos 80 anos. Foi maior do que a seca de 30. E não teve um saque, exatamente, porque tem os programas sociais. Além da possibilidade real que é dado a um filho de uma empregada doméstica poder virar médico, de um filho de um pedreiro poder virar engenheiro.Falam na dívida externa. O juro da dívida… o setor financeiro continua ganhando o mesmo ou mais que ganhava antes. Em vez de tirar o pobre do orçamento, a taxar as grandes fortunas, estão dispostos a diminuir o ganho do pobre. Agora, querer tirar o pobre do orçamento é um absurdo. O pobre hoje sabe do que tem direito, os pobres acostumaram com o que é bom, não vão abrir mão disso facilmente e estão bem informados. Antigamente tinha um único meio de informa-los. Hoje, eu ando ai pelo interior e vejo todas as pessoas ligadas com um celular, no blog do Edgar Lisboa ou de alguém para ficar bem informada. Então, não vão mais dominar esse povo como dominavam antes, através da chibata.
Saúde tem sido um tema cada vez mais abordado nos últimos anos. Qual a avaliação que o senhor faz hoje da situação da saúde no Brasil e no Distrito federal?
Saúde no Brasil é difícil porque é o único país do mundo que tem saúde universal. Aqui se critica muito e tem pessoas que chegam e dizem: eu quero a saúde pública de primeiro mundo. Eu digo: o que é primeiro mundo pra ti? Estados Unidos. Pois é, lá não tem saúde pública não. Você que não tem plano de saúde, lá você tá ferrado, vai morrer. Aqui não. Pode ser o mais aquinhoado empresário do Distrito Federal. Eu conheço empresários que tem determinada moléstia que custa caro que vai buscar o medicamento no Hospital de Base que é distribuído gratuitamente do mais humilde ao mais aquinhoado. Então a saúde é cara. Cabe às autoridades pensar em colocar mais e mais recursos, disciplinar ao funcionamento dos hospitais e ter efetivamente gestão para melhorar a qualidade da saúde. Agora, não é o caos todo que muitos meios de comunicação colocam aí exatamente para fortalecer a saúde privada, para fazer com que mais gente compre plano de saúde. Eu tenho o costume até porque eu tenho plano de saúde também, visitar hospitais conveniados para saber se a fila é menor. Vai marcar uma consulta com um especialista para ver. Vinte a 40 dias, isso se você for amigo do médico.Aí é só falar da saúde pública. Não estou dizendo que está um céu, que é uma maravilha. Estou dizendo que tem problemas e tem que ser corrigidos. Mas na época do Governo Agnelo (Agnelo Queiroz) nós fizemos uma pesquisa e essa pesquisa da Vox Populi apontou que 80% das pessoas que falavam mal da saúde pública, em Brasília, nunca tinha ido num hospital público. Então a pessoa fala por ouvir dizer. Alguém disse que não presta e ela passa a dizer que não presta também.
Educação. Como o senhor vê a situação da educação, das escolas, em Brasília e no Brasil ?
Preocupante. A educação tem que ser unificada nacionalmente. Tem que ter diretrizes de base da educação que tem que valer para o país todo. E a medida que você tem um ministro ignorante que é ligado aos colégios privados e não entende de educação pública no Brasil, a tendência é piorar mais a qualidade da educação no país.Eu fico me questionando. Mesmo no governo do Fernando Henrique e eu sou um crítico contumaz do Fernando Henrique, uma vez eu falei com o Cristovam Buarque que ia assumir o Ministério da Educação, no Governo Lula e disse: Cristovam, eu sou crítico do Fernando Henrique, sou crítico do modelo de gestão do modelo de gestão dele. Mas quero te dizer uma coisa: você vai ter que se virar e rebolar muito para fazer, pelo menos, o que o Paulo Renato fez no Ministério da Educação na época do Fernando Henrique. Paulo Renato no governo do presidente Fernando, um ministro extraordinário que nós tínhamos na educação. E outros: Jamil Haddad, o próprio Cristovam Buarque que só ficou um ano, depois Aluízio Mercandante, Janine Ribeiro, que para mim foi o ministro, e que teve de sair por causa de acordos políticos. Agora, tem uma pessoa ai que eu me recuso de chamar de ministro da Educação, Me recuso a dizer que o senhor Mendonça Filho é ministro da Educação. Então isso é preocupante. Todos nós temos que estar preocupados com o Ministério da Educação.
Transportes no Distrito Federal?
Nos Transportes, o Agnelo Queiroz teve a coragem de fazer a licitação pública. O processo estava em implantação. A solução para o transporte público, em Brasília, são os grandes corredores porque metrô é caro demais. É o BRT transporte que você pega hoje do Gama para o Plano Piloto, de Santa Maria para o Plano Piloto que você vai em 35 minutos. Acabou com os engarrafamentos e o passageiro vai operando na internet, sentado, bem acomodado, num ônibus decente. Imagina rasgar o corredor de Planaltina à Ceilândia para fazendo o sistema integrado. O Rollemberg deve dar continuidade ao que nós iniciamos. É fundamental que isso seja feito. O Agnelo trocou todos os ônibus da frota. Estão ficando velhos e já começa a ter ônibus quebrado. Portanto, se você faz e não tem a manutenção vai deteriorar novamente.
Eu vi uma experiência interessante de uma prefeitura de uma cidade de 150 mil habitantes, no Rio de Janeiro, Macaé, administrada pelo PT. O prefeito teve a ousadia de colocar transporte grátis e agora ganhou a eleição novamente com 96% dos votos. Eu fico imaginando porque a gente não implanta transporte grátis em todas as cidades do Brasil? E ai você iria cobrar do transporte individual para subsidiar o transporte público. Ou seja, quem gosta de andar no conforto do seu carro, vai pagar um pouco mais para que tenha ônibus de qualidade para quem não tem carro. Se a gente fizer isso, muita gente vai deixar o carro na garagem aqui em Brasília mesmo. Você saiu agora da da Asa Norte para vir até aqui na Câmara Legislativa. Se tivesse um transporte decente teria vindo de ônibus. Quando eu era deputado federal, fui a uma viagem oficial à Suíça, em Genebra, na Organização Internacional do Trabalho (OIT), lá a gente andava de ônibus com a maior tranquilidade. Tem que investir mais, transporte é caro e tem que ser subsidiado pelo Estado.
Câmara Legislativa. Tivemos situações constrangedoras este ano na Câmara Legislativa. Inclusive com a Polícia invadindo gabinetes de parlamentares em busca de documentos. Como o senhor vê essa situação?
Eu sou um crítico da Câmara Legislativa. Nós somos novinhos. E acho que a gente deveria dar exemplo. Não pode acumular os mesmos defeitos que outros poderes legislativos no Brasil afora acumularam. Acho que tem erros, não faço pré-julgamentos, não julgo ninguém antecipadamente. Agora, esperto que apurem tudo. E quem for culpado, pague pelo que fez. E se não for culpado a gente pede até desculpa de ter dito que a pessoa fez, sem ela ter feito. Agora, não dá para jogar para baixo do tapete. O melhor remédio é apurar. Apura, não tem culpa, beleza, ótimo. Tem, pune. É assim que se faz.
Qual a tendência dessa mesa, hoje, para apurar esses fatos?
Eu sinto que estão com vontade de fazer a apuração com cuidado, sem pré-condenação de ninguém.Tem que ser feito. Acho que eles tem consciência exata disso. A deputada Liliane Roriz, autora das denúncias voltou à tribuna após ter se afastado por um período. O corregedor da Câmara Legislativa sugeriu que ela não fosse afastada como queriam alguns parlamentares. Qual a sua opinião? O processo que está correndo é um processo antigo. É um processo de quando ela não era deputada. Portando ela não pode ser responsabilizada por uma coisa que dizem que ela fez e ela diz que não fez. Tem que provar que não fez.Com relação ao comportamento dela na Câmara Legislativa, eu tenho dito que as pessoas não podem condená-la, nem execrá-la por ter feito as denúncias. Acho que ela prestou um bem danado à sociedade na medida que ela denunciou. Agora tem que apurar as denúncias dela. São verdadeiras? Ela fez as denúncias, se dirigiu a quem de direito que é o Ministério Público, portanto você tem o MP, a polícia Civil, todo mundo investigando e ao final vamos ver quem tem razão. Agora, querer condenar ela ou acelerar o processo porque ela fez a denúncia é o pior dos caminhos. Acho que o pessoal que tentou isso, errou de maneira muito grave. Não tem que puni-la porque fez a denúncia. Até porque eu, tenha sido um dos políticos no Brasil que mais denunciei gente e nunca me pegaram numa mentira e não vão pegar nunca. Eu tive, modéstia parte, a capacidade de derrubar um vice-presidente do Brasil que é o senhor Guilherme Palmeira que estava escolhido na chapa do Fernando Henrique e, já naquele tempo, eu denunciei o lobby dele com as empreiteiras, ainda era um lobby muito rudimentar, depois as empreiteiras se aperfeiçoaram de como comprar apoio. Mas eu denunciei. O motorista dele e a secretária eram namorados, o motorista foi demitido e a secretária ficou braba e me procurou para denunciar porque tinham sacaneado com o namorado dela. Com a denúncia o Fernando Henrique teve que colocar o Marco Maciel.
Em relação aos deputados que foram afastados. Qual o caminho que o senhor acha que a Câmara Legislativa deve tomar agora?
No dia que surgiu essa denúncia eu falei com eles e disse que achava que eles deviam se afastar e dar toda a liberdade para que fosse procedida a apuração. Não fizeram. Eles estão afastados agora, não foram julgados, o desembargador que afastou é um homem que age com a maior imparcialidade. É o doutor Humberto Adjuto Ulhôa, conheço o desembargador, sei do caráter dele. Acho que o melhor para os deputados é não querer voltar para essa mesa. Devem se defender, provar que não fizeram nada. Eu já disse para alguns que, se fosse eu, na situação deles eu faria isso.
Qual o desafio da Câmara Legislativa de agora até o final do ano e para o primeiro semestre de 2017?
Esse desafio em curtíssimo, médio e longo prazo é provar para a sociedade de Brasília que a Câmara Legislativa tem utilidade, que ela serve para alguma coisa. Porque se a gente não tiver a capacidade de provar isso, vai chegar um dia que o povo vai pedir o fechamento da Câmara Legislativa. Eu acho que é melhor tem uma Câmara com problemas do que não ter nenhum espaço de democracia no Distrito Federal. Portanto, nós deputados temos que ter a noção exata, que a gente tenha até que se reinventar e fazer com que se justifique para sociedade a importância da democracia, que a democracia seja exercida através do voto e que o `poder Legislativo é um ente muito importante para o funcionamento de uma sociedade que se pretende democrática.
O que, na sua opinião, a Câmara Legislativa votou mais importante nesta legislatura?
Na verdade eu te diria que é muito mais importante pegar o que ela impediu que fosse feito. Para mim, o mais importante foi a gente ter agido na linha de frente e feito com que o governador Rollemberg, lá no seu desespero, não taxasse de maneira abusiva como ele queria a população do Distrito federal. Eu particularmente liderei esse processo e conseguimos derrota-lo naquela ideia. Agora tem assuntos importantíssimos que nós estamos debatendo ai e ninguém, a não ser eu que já sabia, porque eu tinha sido avisado uma vez, há uns 12 anos, pelo Rolf ( Rolf Hackbarta ) que era presidente do Incra e tinha mandado fazer uma pesquisa da situação hídrica do Brasil. Esse estudo apontava que as duas unidades da população que poderia ter racionamento de água, escassez de agua no futuro era Brasília e a Paraíba, Eu tomei um susto, quase cai da cadeira. A paraíba tudo bem, a gente sabe, agora, Brasília não acreditava. Mas com a destruição de nossas nascentes e tudo, chegamos, e num espaço mais curto ainda. Portanto, eu tenho dito e eu jogo muito claro. Estou apoiando a candidatura do Agaciel Maia (PR) e pretendo que se tenha uma mesa diferente na próxima legislatura. Eu aposto em transformar a Câmara Legislativa, num grande Fórum de Debates que atenda a cidade para os próximos 50 anos. Esse é o papel da Câmara Legislativa. E temos que ver as questões imediatas: saúde, segurança, habitação e muito mais. Temos que pensar muito mais de como vai ser Brasília daqui a 50 anos.
Quando é a próxima eleição da Mesa da Câmara Legislativa?
Até 15 de dezembro nós temos que eleger uma nova mesa diretora que terá um mandato de dois anos.
Como está a relação da Câmara Legislativa com o Governo Rodrigo Rollemberg?
Como eu não peço nada de cargos ao governador Rollemberg, conheço ele profundamente, tenho uma relação civilizada, republicana com ele. Quando ele precisa de algum apoio aqui desde que seja projeto efetivamente de interesse da população não nego e não vou negar nunca o meu voto. Bem como toda vez que tem problemas envolvendo trabalhadores, o setor produtivo eu tenho procurado ele para dar vasão as demandas que são apresentadas. Tenho por norma, respeitar o resultado das eleições. Portanto, a população em 2014 resolveu botar o PT na oposição e o Rollemberg no Governo. Agora, a população não elegeu a gente para ser oposição à Brasília, para ser oposição ao Rollemberg. Tanto que todo o projeto que traga soluções para Brasília contará sempre comigo e sem barganha, sem cargo. Eu não quero cargos, já disse mais de uma vez para o governador Rodrigo Rollemberg.
A Polícia tem sido uma preocupação constante. Greves, ameaças de greves, operação padrão. Como o senhor vê a situação atual da segurança pública, dos órgãos de segurança?
É uma situação muito mais complexa. Não é a questão de uma greve hoje. Greve vai ter sempre. O problema é qual o futuro da segurança pública no Distrito federal. Brasília ainda é um ente meio híbrido em que você tem a questão local e tem, por exemplo, a Polícia Militar e a Polícia Civil, cujos códigos são regidos pela união. Por exemplo, para contratar um soldado, um agente da polícia ou do corpo de bombeiros, precisa o Congresso Nacional autorizar. O presidente da República tem que mandar o projeto para o Congresso votar. E ouve um inchaço, de Brasília, a verdade é essa. O quadro de policiais que a gente tem hoje é menor do que o da década de 70 quando Brasília inda não tinha tido esse inchaço que teve. Portanto, ou a união tem preocupação efetiva em a gente aumentar nosso efetivo e pagar dignamente nossos policiais ou nós estaremos numa situação difícil. Eu não conheço muitos países lá fora mas me chama muita atenção Buenos Aires, a segurança, em Buenos Aires é federalizada. Você vê os agentes federais na rua fazendo blitz. A Polícia Federal lá é diferente tanto que tem escrito no colete, Polícia Federal. Estão nas esquinas fazendo segurança. Aqui em Brasília, a Constituição já diz: compete à União, organizar e manter a Polícia Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Nós temos uma realidade que sempre foi um costume aonde a Polícia Civil do distrito federal sempre teve um salário equiparado a Polícia Federal, Quando foi agora, no final do ano passado ou no governo da presidente Dilma, os policiais civis insatisfeitos fizeram uma greve, uma paralização, O Ministério do Planejamento negociou com eles para que esperassem que quando viesse o aumento da Polícia Federal vinha também da Polícia Civil. O que fez, agora, o Michel Temer, não honrou aquilo que o governo tinha acertado. E eu sempre digo, governo é como uma viúva. Quando você casa com a viúva, assume os filhos. Portanto, o Michel temer tem que assumir todos os filhos que estavam por aí. A Polícia Militar, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros, fazem parte desta filharada que ele tem que assumir sob pena de se tornar um padrasto muito surina para nossas forças de segurança.
Como o senhor avalia o Sinpol-DF?
O gaúcho (Rodrigo Franco) é um dirigente sindical muito dinâmico, muito corajoso. É uma pessoa que merece muito respeito de todos nós.
E a Polícia Militar. Qual a situação da Polícia Militar? Tem que dar apoio além da segurança local, todos os eventos internacionais. Tem estrutura para isso?
A União tem que compreender que temos aqui as representações internacionais que dependem da nossa segurança. Portanto, a segurança custa caro. Tudo o que é evento que se desloca para Brasília depende da nossa segurança. Por isso que tem que ter um olhar diferente para a segurança pública do Distrito Federal, no que tange a financiamento. Ai fica a União dizendo que se eu conceder ao reajuste aqui os policiais lá do estado tal vão pressionar o governador. Tem que compreender gente. É diferente. A situação aqui é outra além de estarmos na cidade com maior custo de vida do Brasil, quem sabe, superior a alguns países do mundo.
Greve dos bancos. Um mês de greve?
Eu estive ouro dia numa manifestação dos bancários e eu dizia exatamente isso: o governo Temer está querendo fazer com os bancários, ele com os banqueiros, o que a Petrobrás fez com os petroleiros em 1995, no primeiro governo do Fenando Henrique que é derrotar os trabalhadores para dar exemplo aos demais. Não vai conseguir derrota-los. Um governo que tivesse um mínimo de sensibilidade, hoje, chamaria a Febraban e determinaria uma negociação com os bancários, até porque, esse setor é o setor que mais ganhou dinheiro no Brasil. Então não tem porque não dar um reajuste para os bancários.
O desemprego chegou a números fantásticos. Chegam a 11,4 milhões. Aí o sujeito quer trabalhar e acaba perdendo oportunidades de emprego porque o Ministério do Trabalho não disponibiliza a carteira do trabalho. Como o senhor vê essa situação?
Eu venho denunciando isso já a bastante tempo. Se o empresário contratar o trabalhador e não assinar a carteira é multado. Portanto, temos aquela velha e boa carteira de papel que era impressa em gráficas. Numa situação emergencial dessas imprime ai uns quatro ou cinco milhões de carteiras de papel, distribui para as superintendências do trabalho e depois implanta essa carteira digital. O problema é que os burocratas continuam tendo salário. Acontece o que acontecer, religiosamente, cai o pagamento na conta deles. Agora, uma mãe de família desempregada que é arrima de família, que os filhos dependem dela para ganhar um salário de R$ 800,00 reais, a carteira é muito importante para ela. O que falta é decisão, falta coragem e fazer, que é o que a maioria das nossas autoridades não tem. E boa parte das autoridades brasileiras estão muito longe da realidade. Eu me lembro de uma determinada reunião quando o Lula queria implantar o Bolsa Família e implantar mais alguns programas sociais. Aí o Palocci, com a turma dele e os burocratas, afirmaram isso não dá e coisa e tal. Lula olhou e disse: estou mandando fazer. Não chamei vocês aqui para pedir palpites de vocês. É pra fazer. E foi feito. Falta isso, alguém que assuma e que pare de ouvir burocrata. E nesse país, a burocracia é tão forte que já teve um ministério para desburocratizar o Brasil e derrubaram o ministro.
Eleições par administradores regionais, em Brasília?
Eu apresentei um projeto para eleições de administrador. Nós não estamos transformando as cidades satélites em municípios. Não é isso. Agora é importante que a população participe. Tem até um modelo que é do Ministério Público onde vai uma lista tríplice e o governador escolhe um dos três. O primeiro e os dois suplentes. Não deu certo? Muda para o segundo e até para o terceiro, sem Câmara de Vereadores e sem nada.
Organizações Sociais de Saúde (OSS)?
Essa é uma grande briga que estou travando com o governador Rollemberg e espero convencê-lo de que não precisa OSS no Distrito Federal e parte nenhuma do Brasil. Precisa alguém que mande, que administre, que tenha pulso que determine o que tem que ser feito. Até porque OSS é oportunidade de corrupção e malandragem, destruição, do Sistema Único de Saúde. Uma quadrilha aqui de Brasília se estabeleceu em Manaus e em poucos anos roubaram 100 milhões da Saúde Pública. Eu conheço a realidade do Amazonas. Dá dó verificar aquele povo esperando atendimento e os caras vão lá e roubam 100 milhões.
Eu conheço um projeto que tive o prazer de visitar que é um atendimento feito na Amazônia pela marinha do Brasil. São os chamados navios hospitais. São comandados por militares. É uma coisa que devia ser divulgada. A marinha fez um convênio com o Ministério da Saúde, de apoio. Abriram as 8 horas da manhã, pararam para o almoço e depois as 17 horas encerraram atividades. E a fila só crescendo. No segundo dia, mais fila. No terceiro dia a fila maior ainda. O Comandante pegou o rádio e fez um contato com o ministro da Saúde e disse: o convênio continua de pé mas o senhor retire seus homens daqui que eu vou entrar com os meus. Isso aqui é Amazônia, é estado de guerra. Portanto, o senhor retire seus homens que são muito bons mas eu assumo com os meus porque nos meus eu mando. E deu certo. No navio tem sala cirúrgica e até helicóptero para deslocamento de urgência. Então, o que falta é comando.
Para concluir, um comentário seu sobre Lula
Fiquei muito animado hoje, o presidente Lula indo par uma reunião com sindicalistas de mais de 100 países foi ovacionado, no Rio de Janeiro. Ele falou que está todo mundo preocupado decretando o fim do PT. “O PT não acaba nunca. É mais uma lambada que nós levamos e se levanta de novo.” Esse é o Lula, o Lula que eu acredito e se deixarem ele vivo será presidente em 2018.Eu falei para você aqui numa entrevista que se o governo da Dilma desse certo o candidato a presidente seria o Aloizio Mercadante. E eu continuo convicto disso. Infelizmente deu errado.
Edgar Lisboa, Agência Digital News