Carta aberta ao companheiro Lula, ministro da esperança

Recebo diariamente manifestações de várias pessoas a respeito da atual situação do país. Esta semana recebi de uma moradora de Montes Claros, Minas Gerais, a médica e advogada, Dinália de Mesquita, uma mensagem que me emocionou pelo seu conteúdo.

Ela me pediu que transformasse sua carta em pronunciamento na Câmara Legislativa do DF. Assim farei, mas decidi também dividir com meus leitores do Brasil247 o sentimento desta mulher, que, com certeza, traduz o de muitos brasileiros.

Ela escreveu:

CARTA ABERTA AO COMPANHEIRO LULA, MINISTRO DA ESPERANÇA.

“Há algum tempo percebia em mim uma certa angústia, com a situação de frequente tentativa de golpe por parte do candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais e os seus aliados, com o apoio da mídia. Tinha a percepção clara de que pessoas progressistas estavam acuadas, ameaçadas e caladas.

Não mais tínhamos a vontade de debater idéias políticas. Ocorriam vários episódios de agressões verbais a petistas, recheadas de preconceitos, desqualificações e xingamentos, como a que aconteceu com o nosso Chico Buarque e tantos outros, que foram abordados por playboys direitistas, filhinhos de papais corruptos, descompromissados com o povo.

Não havia mais espaço em que pudéssemos defender as nossas ideias, que não fôssemos duramente criticados e rejeitados por pessoas sem o mínimo de conhecimento político e menos ainda, sem o menor compromisso com os que mais necessitam.

O nome PT em pouco tempo virou sinônimo de corrupção, virou palavrão, enquanto inúmeros escândalos do partido golpista eram denunciados e nada acontecia.

No dia de sua posse como Ministro, fiz parte daqueles que estiveram em frente ao palácio, acompanhada dos meus filhos, para levar a você o nosso apoio.

A direita ficou separada de nós por um cordão de policiais da cavalaria e na primeira fileira estavam os pitboys e bombados, gritando e provocando-nos. Pareciam animais selvagens, raivosos, dispostos a nos destruir.

Por orientação de alguns parlamentares permanecemos ali, encurralados, para não dar a eles o que tanto querem e pedem nas ruas, “intervenção militar”. Não foi fácil sairmos dali, sem sermos agredidos fisicamente, porém fomos provocados e não reagimos, apesar do sofrimento.

Saí com uma sensação horrível, e não enxergava luz no fim do túnel. Ao entrarmos no carro, a primeira notícia que ouvimos foi a de que um juiz havia concedido liminar cassando sua nomeação. Em seguida, enquanto trechos dos diálogos das várias gravações do grampo eram colocadas no ar os comentaristas faziam críticas e debochavam.

Naquele dia tive a sensação de que não estávamos vivendo mais uma democracia, senti que o juiz Moro colocava em risco a segurança nacional. A impressão era de que estávamos vivendo um regime policialesco, a exemplo do que ocorria na época da Gestapo nazista.

Com viagem prevista para São Paulo, fui com muito receio de como seria o clima da manifestação do dia seguinte na Paulista. Quero lhe dizer, companheiro, que com a sua presença senti um povo com a auto-estima elevada e esperança renovada. Reinava um clima de alegria e de confiança de que iríamos fazer a virada necessária.

Felizmente, para a nossa pátria, você não pertence apenas a sua família, tornou-se, indiscutivelmente, patrimônio do povo brasileiro. Você não é um homem comum que aos 70 anos tem o direito de ficar em casa curtindo sua família.

O povo brasileiro precisa da sua coragem cívica, da sua responsabilidade social, para continuar as transformações sociais necessárias. Precisa da sua liderança e do seu carisma para manter as conquistas já realizadas, como o direito de todos de se alimentarem três vezes ao dia, estudar, fazer uma faculdade estando em qualquer classe social, poder continuar a andar de avião, comprar o seu carrinho, trabalhar e se divertir.

Sensibiliza-me, sempre, sentir o carinho com o qual se refere aos menos favorecidos. Foi gratificante ouví-lo dizer que quer estar ao lado da nossa presidenta, para ajudá-la a ver o seu povo feliz e de cabeça erguida.

Só lhe peço, companheiro Lula, que com toda resistência que possa ocorrer, que essa mídia sofra alguma forma de regulação, caso contrário, as pessoas serão sempre manipuladas. Ver pessoas de classe social inferior falar mal do PT e do seu governo, unindo-se a essa corja, nos faz sofrer muito.

Sabemos, no entanto, que eles não são culpados por esse comportamento, é culpa exclusiva da mídia-zika.

Não acreditava que reuniríamos tanta gente, mas senti que todos nós estávamos com um nó na garganta e que precisávamos voltar a ocupar as ruas, espaços que sempre nos pertenceram, e onde continuaremos na luta pela defesa do estado democrático de direito e pelo respeito ao nosso voto.

Hoje, ministro da esperança, aproveito para parabenizá-lo por ter aceito o cargo, por não desistir do seu povo e por esse sentimento que tenho agora, uma explosão dentro do meu coração vermelho por fora e verde amarelo por dentro e a sensação de alma lavada.

Obrigada a você e a todos os companheiros que compareceram em massa, demonstrando a nossa força, mesmo que a mídia golpista busque diminuir a força demonstrada, nós a presenciamos e a vivenciamos.

Sabemos da nossa força. Vamos pra luta. Disputem, democraticamente conosco as eleições e mostrem nas urnas a “força” demonstrada nas manifestações financiadas pela FIESP e certamente pelo capital estrangeiro.

Na madrugada tomei conhecimento de nova liminar do ministro Gilmar Mendes cassando sua nomeação, mais um avanço do golpe da direita.

Se esse ministro tivesse um mínimo de decência e ética, por certo, teria se considerado suspeito para proferir essa decisão. Não só pelo pré-julgamento feito, inoportunamente, em julgamento de que participava no STF, mas, sobretudo, pela sua ligação partidária ao PSDB. Quem quiser conhecer melhor o seu passado leia o livro A PIRATARIA TUCANA.

A luta continua! “

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