A direita tentou mais uma vez nesta sexta-feira (04/03) golpear a democracia, o que certamente acirrará os ânimos já exaltados entre os brasileiros.
Ficou claro que a chamada da Globo exaustivamente repetida durante toda a manhã, “Ex-presidente Lula é alvo da mais nova fase da Operação Lava Jato”, vem sendo tramada há muitos meses.
Tudo sem nenhuma prova. Tudo baseado em insinuações torpes, mentiras, meias verdades e principalmente no desrespeito às leis, inclusive ao STF, onde a defesa de Lula peticionou para que se decida sobre o conflito de atribuições entre o MP de São Paulo e o MPF para apontar a quem cabe investigar os fatos.
Enquanto isso não for decidido, legalmente Lula não poderia ser novamente ouvido e muito menos de forma coercitiva.
Ao decidir ouvi-lo e por ação coercitiva, antes de uma decisão do STF sobre estes pedidos, a chamada Força Tarefa cometeu grave afronta à mais alta Corte do país.
Foi o maior espetáculo midiático dos últimos tempos a montagem para o mesmo dia e a mesma hora o depoimento do presidente Lula, em São Paulo, e a entrevista coletiva da força tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, sob os holofotes de uma imprensa majoritariamente direcionada no sentido de culpabilizar Lula.
O objetivo imediato é um só: preparar o campo de batalha, criar indícios de culpa e semear o ódio entre os não petistas para que inflem as ruas no dia 13 de março, uma vez que suas últimas manifestações perderam força em relação aos primeiros atos pelo impeachment.
A longo prazo o objetivo desta aliança espúria entre a mídia e a força tarefa da Lava Jato, com seus organizados vazamentos seletivos, é impedir que Lula continue sendo a figura mais respeitada deste país e portanto a mais forte para as eleições de 2018.
Não convence ninguém, e trata-se de uma demonstração exacerbada de cinismo a alegação de que o presidente Lula foi levado coercivamente para depoimento na PF para sua própria segurança.
O depoimento de Lula nesta sexta-feira foi sim o coroamento de uma semana de ataques articulados no sentido de culpabilizar Dilma e o Partido dos Trabalhadores.
A decretação da prisão preventiva de João Santanna e sua mulher pelo juiz Moro – totalmente desnecessária, uma vez que voltaram ao país por vontade própria para ajudar nas investigações – foi outro ponto do roteiro armado pela direita.
A matéria da Revista IstoÉ sobre uma suposta delação premiada do senador Delcídio Amaral, preso pela Operação Lava Jato – não confirmada por ele nem por defesa – é outro dos pontos cruciais na tentativa de enlamear o PT.
Ninguém, no entanto, fala da vida pregressa do ex-tucano Delcídio Amaral, dos cargos que ocupou nomeado por FHC na Petrobras no “programa de internalização da estatal” junto com Nestor Cerveró, de sua ação como ex-diretor da Shell na Holanda. Apenas o mostram como um político petista corrupto. Aconselho aos jornalistas investigativos deste país a fazerem uma pesquisa decente a respeito.
Os manifestantes ainda estavam nas ruas de São Paulo e Curitiba, e Lula havia recém saído do depoimento à PF, quando a comentarista política da Globo News, Eliane Catanhede, exultante já comemorava: “a era PT está no fim”.
Em uma das chamadas, o jornalista do G1 e Globonews Gerson Camarotti, seguindo o roteiro da montagem do PT como o monstro da história, soltou a seguinte pérola: isso que vemos em Congonhas (referindo-se “aos manifestantes petistas” no aeroporto onde Lula prestava depoimento) é a mostra do que o PT vai fazer, politizar o acontecimento.
Camarotti inverte os papeis e joga sobre o PT a responsabilidade do que a direita está fazendo, politizando a guerra declarada contra o PT, Dilma e Lula após as últimas eleições presidenciais.
A oposição como um todo está em delírio. Aécio Neves eufórico afirmou que a Lava Jato está a um passo da verdade”. Ele, o maior beneficiário da Lista de Furnas, um dos maiores escândalos de corrupção deste país.
O líder dos democratas, Pauderney Avelino (AM), repetiu as mesmas palavras do procurador federal Carlos Fernando Santos Lima na coletiva em Curitiba: ninguém está acima da Justiça, nem em Curitiba, nem em Brasília.
O democrata Agripino Maia relacionou o fim da crise econômica à saída de Dilma: “com o governo que está aí o país não sai da crise. Se a saída é pelo impeachment ou não não sei…
Na mesma linha o tucano Cássio Cunha Lima foi além: “cada vez que aumenta a crise do PT e do governo a economia melhora, então acho que a solução está clara”.
Analisando estes discursos parece cristalino que a 24 etapa da operação Lava Jato é política, feita de forma coordenada entre a Justiça, políticos de oposição e a grande mídia brasileira. É ilegal e arbitrária.
Lula já prestou vários depoimentos sobre o apartamento do Guarujá e o sítio de Atibaia – que não são dele – e inclusive já teve seu sigilo bancário aberto. Nada foi descoberto.
Inconformados levam Lula mais uma vez e desta vez coercivamente para depor sobre as mesmas questões pintadas pela Globo como algo absolutamente novo e ainda mais grave.
Em resumo, o significado desta nova operação focando diretamente Lula pretende manter o tema Lava-jato na mídia; transformar o fato midiático em fato jurídico; desviar o foco de atenção do país sobre Cunha, que já deveria ter siso apeado da presidência da Câmara;pregar a criminalização do PT e acirrar o ódio ao partido; e, finalmente, tirar Lula do páreo das eleições de 2018.
O PT e os democratas deste país não vão, no entanto, abaixar a cabeça. A resposta e o caminho a seguir veio do próprio Lula algumas horas depois.
Em entrevista coletiva ele disse: Me senti prisioneiro hoje. Estou intimamente magoado. Merecia mais respeito. Acho que nosso país não pode continuar assim, amedrontado, onde qualquer juiz que ganha um prêmio da revista Veja, da Globo, tem que prestar conta. Enquanto os advogados não sabiam de nada a imprensa já sabia. Estavam todos lá aguardando o show.
Lula mandou seu recado: Antes de muitos dos que foram em casa hoje às sete da manhã existirem, eu já era metalúrgico, Marisa já era empregada doméstica e nós já éramos democratas.
Neste país todo dia alguém faz o PT sangrar. Vamos levantar a cabeça. Recomeçar. A partir de hoje, quem quiser me ver falar, CUT, MST, sindicatos, é só me chamar. Já cruzei o Brasil de norte a sul de ônibus, posso fazer de novo de avião. Os que me atingiram hoje queriam matar a jararaca, mas não bateram na cabeça, só acertaram o rabo.
Deputado Chico Vigilante
Artigo publicado originalmente no Brasil 247