Chico Vigilante | CHICO VIGILANTE, CORAGEM E DETERMINAÇÃOArtigo: Excelência, vote como se fosse morrer amanhã
*Por Chico Vigilante
Sobre quais questões deveriam refletir os 65 deputados da Comissão de instalação do Processo de Impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados neste domingo – últimos momentos antes da votação do parecer do relator Jovair Arantes?
Como se diante de uma sessão de análise estivessem, Vossas Excelências deveriam se fazer as seguintes perguntas:
1 – Meu voto é um voto político e de interesse partidário e pessoal ou meu voto respeita a Constituição brasileira e a Lei de Responsabilidade Fiscal deste país, que determinam que para haver impeachment de um presidente da República deve haver crime de responsabilidade ?
2 – Examinei o processo e estou convicto de que a presidente cometeu crime de responsabilidade, ou estou me deixando levar pelo que muitos chamam de “conjunto da obra” como se fatos alheios ao processo pudessem preencher a lacuna legal para que o voto popular seja violado ?
3 – Como Cristão estou respeitando os 10 mandamentos ou pecando contra o Nono Mandamento, a Mentira, contido na Bíblia Sagrada em vários trechos, num deles, Êxodo 20:16 : não dirás falso testemunho contra o teu próximo?
4 – Quero entrar para a história como um democrata que respeita o resultado das urnas ou como um homem que ajudou a desestabilizar o país e a levá-lo ao caos e até quem sabe à uma guerra civil?
5 – Quero ser lembrado por meus filhos e netos como uma liderança política que se preocupa com a maioria do povo de seu país – trabalhadores, do campo e da cidade, estudantes, idosos e minorias – ou como um rendido aos interesses dos grandes, das elites, daqueles que compram e pagam pelas decisões do Congresso Nacional e da Justiça e trabalham com o apoio das manchetes da grande mídia deste país ?
6 – Estou certo de que votando pelo impeachment da presidenta Dilma não estarei ajudando a criar um precedente perigoso para a segurança de todo e qualquer cidadão brasileiro ? ao contribuir para que tirem do poder uma presidenta eleita com 54 milhões de votos, sem que tenha cometido nenhum crime, não estarei contribuindo para que amanhã possam fazer o mesmo comigo?
7 – Já me dei conta de que de Michel Temer a Eduardo Cunha, passando pelos tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin, os adversários mais influentes de Dilma estão envolvidos em chocantes escândalos de corrupção que destruiriam a carreira de qualquer um numa democracia minimamente saudável ?
8 – Já refleti o suficiente sobre o fato de que afastar Dilma significa entregar a direção do país a Michel Temer e em seus impedimentos a Eduardo Cunha, e que ambos enfrentam acusações de corrupção bem mais sérias do que as que são dirigidas a ela?
9 – Será bom para o Brasil tirar do poder Dilma, que não cometeu nenhum crime, para substitui-la por Michel Temer sobre quem pesam acusações – como as de participar de esquema de cobrança de propina da empresas Libra Terminais S/A, pela exploração de terminais do Porto de Santos, desde 2002; de ter sido responsável pela indicação de Jorge Zelada, diretor da área Internacional da Petrobras e de ter recebido propinas por meio de Fernando Baiano, operador do PMDB, segundo delação do ex-peemedebista Delcídio do Amaral já homologada pelo STF no âmbito da Lava jato?
10 – O financiamento de minhas campanhas eleitorais foi todo devidamente declarado ao STE com fonte conhecida, ou teve Caixa Dois?
11 – O financiamento das campanhas dos deputados estaduais, vereadores, prefeitos e governadores de meu partido ou das coligações que apoiei foi todo devidamente declarado ao STE com fonte conhecida, ou teve Caixa Dois?
12 – Quantas denúncias correm contra mim atualmente na Justiça? Tenho tido condições de me defender? Os juízes e promotores estão agindo corretamente? Meus advogados estão trabalhando livremente, ou como os de Lula, sendo grampeados pela Polícia Federal?
13 – Aos deputados do PSB aconselho antes de votar se fazerem a seguinte pergunta: se em nome da governabilidade um governador do PSB mandasse para a Câmara Legislativa, um projeto de lei para regularizar as pedaladas cometidas por ele em 2015, você como deputado aprovaria?
14 – Aqui no DF isso aconteceu com Rodrigo Rollemberg e eu como deputado distrital do PT, votei a favor porque não considero pedalada crime e sou oposição local mas defendo os interesses do DF e da população, ao contrário de muitos que defendem a teoria do quanto pior melhor.
15 – Ao presidente da Comissão do Impeachment, deputado Rogério Rosso, sugiro se perguntar como enxerga o resultado calamitoso de sua gestão de nove meses no GDF e sua baixíssima popularidade diante da população? Baixa popularidade é motivo de impeachment?
Ao relator da Comissão, deputado Jovair Arantes, que deu pareceu pelo impeachment da presidente Dilma, ou seja, criou a peça principal para o golpe, e tem um ficha corrida invejável nos tribunais, aconselho que se faça as seguintes perguntas, como se diante do espelho estivesse:
16 – Meu Deus, por que permitirtes que eu me tornasse uma figura tão hipócrita a ponto de propor o impeachment de uma mulher honesta quando ignoro meus próprios erros como a ação de improbidade administrativa e tráfico de influência acolhida, pela 9ª Vara da Justiça Federal em Goiás, em relação ao INSS estadual?
17 – Como posso negar se interceptações telefônicas de julho de 2010, da Operação Guia da Polícia Federal, revelaram minha participação ativa em esquema de trocas de favores, indicação de cargos dentro do INSS, e a concessão de benefícios à meus correlegionários?
18 – Como posso tentar pousar de bom moço neste momento decisivo para o país, se nestas conversas telefônicas, sou tratado pelo ex gerente do INSS, José Aparecido, como “comandante”, e lhe peço para intervir na nomeação de Antônio Donizete para o cargo de chefe do INSS no município de São Luis dos Montes Belos (GO), dizendo tratar-se de uma vontade manifestada pela Maçonaria?
Aconselho a todos aqueles que sentam no rabo e atiram a primeira, a segunda e a última pedra, que reflitam profundamente antes de votar, porque se a Justiça brasileira é lenta, por vezes parcial e está longe da perfeição, acreditem: a Justiça divina não falha e a dos movimentos sociais organizados deste país caminha para a busca de igualdade, de distribuição de renda, do respeito à verdade e às liberdades democráticas e na busca cada vez maior do poder popular nas decisões da Nação.
Aos indecisos aconselho que antes de votar pensem numa frase do advogado e líder do Movimento pela Independência da Índia da imperialista Grã-Bretanha, Mahatma Gandhi, (cujo significado em sânscrito quer dizer A Grande Alma ): Viva como se fosse morrer amanhã e aprenda como se fosse viver para sempre.
E eu, excelências, na ponta de cá da Esplanada, vos aconselho : escutem as vozes das ruas, não a das elites que batem panelas caras e pesadas em seus apartamentos com ar condicionado, mas as da vanguarda brasileira dos movimentos culturais, da academia, dos estudantes, dos juristas e advogados, dos movimentos sociais organizados, dos trabalhadores e trabalhadoras deste país que não sonegam impostos, não tem contas em paraísos fiscais e que dão o sangue para ver e viver num Brasil melhor para todos os brasileiros.
Estaremos nas ruas e vai ter luta.
* Chico Vigilante é Deputado distrital e presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Legislativa do DF