*Por Chico Vigilante
O segundo round da luta pelo poder no Brasil acaba de começar.
No primeiro round o golpe do impeachment foi montado pela direita no Congresso, com o apoio da grande mídia, e setores do Judiciário, aplaudidos por uma classe média alta destilando nas ruas seu preconceito de classe.
A Operação Lava Jato, suas prisões preventivas e os vazamentos seletivos da mídia vendiam a imagem de que a culpa pelos males do Brasil eram única e exclusivamente do PT, bandidos, corruptos e mal administradores.
Os processos da Justiça contra petistas voaram, seus julgamentos e prisões foram espetaculares e as penas a eles impostas as mais longas e injustas possíveis.
Nas manifestações de rua o ódio contra o PT, Lula e Dilma espumavam a boca de lideranças do Movimento Brasil Livre (surgido em apoio à campanha de Aécio Neves); do Vem pra Rua (segundo o The Economist “fundado para promover as respostas do livre mercado no país”); e do Estudantes pela Liberdade, OCIP intimamente ligada a Koch Industries, segunda maior empresa privada dos EUA.
O interesse da Koch Industries no Brasil – cujas principais atividades são ligadas à exploração de óleo e gás, oleodutos, refinação e produção de produtos químicos derivados e fertilizantes – não é difícil de imaginar: a Petrobras e o Pré-Sal, é claro.
Quando me perguntam se tudo oque está acontecendo no Brasil é ruim, digo: não, nem tudo. Digo não porque agora tudo aquilo que sempre dissemos – que era um golpe de bestas feras para salvar as próprias peles – ninguém mais pode negar.
Digo não porque o segundo round acaba de começar e agora cada dia mais a verdade virá a tona.
A máscara de Temer e seus comparsas caiu. O discurso de salvador da pátria bonzinho e honesto contra a corrupção dos outros não cola mais.
Corrupto, tem que devolver a Presidência da República e ir pra cadeia, já. Esta é a única forma de não continuar a agir como sempre em sua inseparável dobradinha com Eduardo Cunha, mesmo após afastado ainda ditando regras no Congresso e no Executivo.
No Brasil e no mundo as vísceras da direita foram expostas.
Na quinta, 16/06, o The Wall Street Journal afirma que ex-senador Sérgio Machado denunciou Michel Temer de ter recebido R$ 1,5 milhão em propina durante a campanha eleitoral de Gabriel Chalita para a prefeitura de São Paulo, em 2012, e que a propina veio junto com o financiamento de campanha oferecido pela empreiteira Queiroz Galvão.
O jornais Estadão, Folha, O Globo, e Valor deram manchetes de primeira página relacionando Temer, e mais de 20 políticos de vários partidos ao esquema de propinas de Sérgio Machado. O Valor citou nominalmente na manchete Temer e Aécio Neves.
A Folha afirma em editorial que “a narrativa de Sérgio Machado indica o quanto o governo de Michel Temer pode se enfraquecer diante da Lava Jato. Nem mesmo políticos agora aliados e há tempos afastados da máquina federal, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), passaram incólumes”.
As delações caíram como bomba sobre a reputação de Michel Temer. Ele, Aécio Neves, Sarney, Jucá, Renan, e a turma que forma o núcleo do governo interino é campeã de citações e denúncias.
Neste segundo round a população brasileira tem que cobrar uma mudança na dinâmica da Lava Jato. Não podemos mais aceitar que diante de cifras tão polpudas o STF continue lento em relação aos políticos da lista, enquanto Moro dedica atenção a pedalinhos, sítios de amigos e apartamentos que Lula não comprou.
A população – inclusive aqueles que foram à rua dizer Somos Cunha e a apoiar Temer e que agora estão certamente envergonhados e arrependidos – devem cobrar celeridade ao STF para julgar e colocar na cadeia toda a quadrilha que usurpou o poder, enlameados por várias denúncias, inclusive anteriores à Lava Jato.
Os cidadãos e cidadãs brasileiros devem estar se perguntando por que não prendem Cunha, Aécio, Renan, Jucá, e o próprio Temer, cuja máscara de vilão agora se encaixou perfeitamente no personagem ?
Temer sempre foi um impostor, tomou o poder sem nenhum voto, vendeu a imagem de conciliador nacional, apontando a impopularidade de Dilma como um dos fatores importantes para sua queda. E ele ? qual é sua popularidade agora?
Sua imagem, que nunca foi boa, agora piorou. Duas pesquisas realizadas recentemente pela CUT / Vox Populi e pela CNT / MDA mostram Temer com 11% de aprovação, ou seja, com o mesmo percentual de Dilma.
Os dois institutos detectaram que a sociedade acha que a corrupção será igual ou maior sob Temer, que a economia vai piorar e que o impeachment não resolverá nada. O pessimismo é geral.
Mais do que nunca é hora de estarmos nas ruas pressionando o STF para que as denúncias se transformem em processos e os processos em julgamentos.
Temer deve entregar o poder, assim como fizeram seus ministros envolvidos em denúncias, e um plebiscito ser convocado imediatamente para que os brasileiros se manifestem sobre a convocação de eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte para tratar principalmente de uma reforma política no país.
*Chico Vigilante é deputado distrital pelo PT-DF