ARTIGO – Tabata Amaral tem compromisso com empresários que a elegeram, não com a sociedade

O deputado distrital Chico Vigilante (PT) expõe, no artigo abaixo – que teve vários trechos veiculados hoje em veículos da Imprensa – o que acha da posição adotada esta semana pela deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) durante evento onde ela criticou o PT. De forma clara, Vigilante fala da sua história dentro do partido desde a sua fundação e dos compromissos do PT com a sociedade brasileira

*Chico Vigilante

Sou fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 10 de fevereiro de 1980 eu era um dos delegados do Brasil inteiro reunido no colégio Sion para ver o nascimento oficial do PT. Um dia nublado e chuvoso no Estado de São Paulo, mas que despertava muita esperança na criação de um partido dos trabalhadores e que atuaria pelas mudanças fundamentais que precisavam ser feitas. Ainda estávamos sob uma ditadura militar, pois a ditadura só caiu oficialmente em 1985.

De lá para cá eu tenho dedicado toda minha vida ao fortalecimento e ao crescimento do PT. Pude experimentar de perto a sensação de ver o interior desse país sendo acompanhado e o governo do PT, especialmente do presidente Lula, resolver os principais problemas existentes. Como, por exemplo, 12 milhões de pessoas que moravam na escuridão, serem contempladas com eletricidade em suas residências por meio do programa Luz Para todos. Ou famílias serem beneficiadas por programas como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), por meio do qual os pobres passaram a ter direito a um atendimento de saúde digno nas suas casas ao passarem mal – coisa que os ricos já tinham há muito tempo.

Vi, na área de Educação, feitos como a criação de mais de 400 Institutos Federais de Educação no Brasil, o avanço das universidades, especialmente aqui no Distrito Federal, quando criamos o campus da Universidade de Brasília (UnB) – que vivia confinada na Asa Norte. Até então, só os ricos tinham o direito de ingressar na UnB, mas criamos campus na Ceilândia, no Gama e em Planaltina mostrando que era possível democratizar o ensino superior no país.

Estou lembrando tudo isso para dizer o quanto estou indignado com a postura de uma deputada federal pelo PSB que era do PDT e que sempre foi bancada pelos tubarões do sistema financeiro de São Paulo, a Tabata Amaral. Uma pessoa que se elegeu em função disso, bancada pelo empresário Jorge Paulo Lemann. Logo, alguém que não tem compromisso com partidos nem com ninguém, apenas com o patrão que a elegeu.

Tabata disse que é contra uma federação do PSB com o PT. Eu fiquei calado até agora, mas também sou contra e já expressei isso no meu partido. Nós não temos que fazer uma federação com essa gente. Nós não precisamos do PSB absolutamente para nada. Precisamos ir para a sociedade levar o nosso programa e mostrar mais uma vez a capacidade que temos de transformar a sociedade.

Não podemos fazer uma federação com pessoas que ficam em determinados jantares, não se sabe a preço de quê ou por quanto, tramando contra o Partido dos Trabalhadores. Isso é simplesmente inaceitável. Portanto, esse tipo de aliança, esse tipo de coisa eu não quero.

O Congresso Nacional agiu certo quando acabou com as coligações proporcionais, para as pessoas saberem efetivamente em quem elas estavam votando. O Congresso errou quando criou essa figura de federação partidária que na verdade é um arremedo, é uma coligação proporcional disfarçada, que em vez de trazer tranquilidade vai trazer muito mais confusão no interior dos partidos. Acho que está na hora de o PT dar um ponto final nisso e acabar com essa história de federação com o PSB.

Não temos motivos para isso. Essa federação não nos acrescenta em absolutamente nada. Um dia é a Tabata Amaral que nos agride; no outro dia é o Renato Casagrande (governador do Espírito Santo pelo PSB); no outro o Rodrigo Rolemberg (ex-governador do Distrito Federal pelo PSB). Todos eles, antigos conhecidos com suas práticas. Sabemos muito bem de onde vieram e para onde vão. Enquanto no nosso caso, do PT, é a sociedade brasileira quem sabe de onde viemos e para onde vamos, porque somos tidos como o partido mais respeitado do mundo inteiro.

Espero que os dirigentes do PT tenham sensibilidade, ouçam efetivamente as bases e encerrem esse capítulo lamentável de discussão de federação partidária. E digo mais: o Geraldo Alckmin (ex-governador de São Paulo, recém-saído do PSDB e sem partido), para ser vice do Lula, e eu concordo que ele seja o vice do Lula, não precisa estar no PSB. Ele pode ir para outra legenda e oferecer muito mais tranquilidade à governabilidade, que é o que nós precisamos.

A senhora Tabata Amaral que siga com os empresários que a financiaram e que a bancaram porque ela sim,é quem tem compromisso com eles. Com quem ela não tem compromisso é com a sociedade brasileira, nunca teve.

*Chico Vigilante exerce atualmente seu sexto mandato como deputado. Foi duas vezes deputado federal no Congresso e está na quarta legislatura como deputado distrital na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).