Pimenta no olho dos outros é refresco

*Por Chico Vigilante

A oposição está se esguelando contra a decisão do presidente em exercício da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão que anulou nesta segunda-feira, 9 de maio, a sessão que admitiu o processo de impeachment de Dilma na Casa, dia 17 de abril.

Todos agora abrem a boca pra dizer que é golpe a ação do presidente de atender a um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), apresentado há dias pelo ministro José Eduardo Cardozo, e convocar uma nova sessão, a acontecer daqui a cinco sessões.

Cunha podia ter respondido ao pedido da AGU. Não fez porque não quis. Agiu sempre como um ditador e só encaminhava o que lhe interessava para seu projeto de vingança de Dilma.

Pimenta no olho dos outros é refresco. Quando afirmávamos que era golpe tirar uma presidenta eleita por 54 milhões de votos sem crime de responsabilidade, os comentários eram um escárnio só.

A AGU está correta. Pediu cancelamento alegando, entre outros pontos, que na votação de impeachment não cabe antecipar votos e nem muito menos a orientação de bancadas, como aconteceu amplamente com o apoio da imprensa aliada ao mesmo projeto golpista.

Os defensores do impeachment da presidenta Dilma não querem aceitar que o presidente da Câmara dos Deputados tome decisões. Por quê? Porque usam de dois pesos e duas medidas.

Para eles, o presidente da Câmara só pode tomar medidas quando é do interesse da oposição. Quando Eduardo Cunha fez todo tipo de manobra para retardar os trabalhos da Comissão de Ética que julgava sua cassação e quando negociava votos a favor do impeachment ninguém reclamava.

Os golpistas dizem que isso não pode acontecer, entre outras coisas, porque nunca aconteceu antes, um presidente da Câmara dos Deputados cancelar uma decisão tomada pelo plenário da Casa.

É mentira. Isso já aconteceu. E obviamente foi contra o interesse de uma minoria e devido à covardia  do então presidente da Casa, Aécio Neves.

Após dois anos tramitando e aprovado nas comissões, o projeto de resolução 01/1999 foi aprovado pelo plenário da Casa.

Uma semana mais tarde, Aécio suspendeu a decisão e engavetou o projeto que dava às viúvas de deputados, pensionistas do Instituto de Previdência da Câmara, o direito a receber o 13 salário – direito este garantido a toda e qualquer viúva do Brasil, do soldado, ao lixeiro, do advogado ao ministro do Supremo, do vereador, ao deputado estadual.

E até hoje o projeto se encontra engavetado em alguma comissão da Casa, apesar da Associação dos Congressistas lutar por ele a cada legislatura.

Após a decisão de Aécio e em reunião com as viúvas, um dia depois, presenciei a uma senhora de 80 anos, viuva de um senador, dirigir-se a Aécio de dedo em riste e dizer : você é um merdinha. Seu avô teria vergonha de você. Apesar de tudo, espero que uma viúva sua não precise nunca passar pelo que nós estamos passando hoje, depender de políticos da sua estirpe.

Pois então, a oposição agora enfrentará uma situação totalmente diferente. Não está prejudicando apenas algumas viúvas, sem nenhuma força de mobilização, mas a toda a população brasileira.

Temer e sua turma sofrerão reações crescentes de movimentos sociais organizados e de setores cada vez mais politizados.

Democracia não se trata  apenas de palavra oca a ser repetida em discursos. Os golpistas tem que aprender o significado real e a força do conceito de democracia.

Com origem no grego demokratía, é composta por demos(povo) e kratos (poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo por meio do sufrágio universal.

No Brasil vivemos uma jovem democracia conquistada a sangue e suor de muitos brasileiros. Nas últimas eleições 54 milhões deles elegeram Dilma Rousseff presidente deste país.

Se os demais também concordam que querem continuar a viver numa democracia, o primeiro passo é não abrir precedentes golpistas, é acima de tudo respeitar a Constituição.

*Chico Vigilante é deputado distrital pelo PT-DF

Artigo publicado no portal Brasil 247