A carta compromisso de Aécio Neves divulgada no último sábado em Recife, com o intuito de fechar um acordo de apoio de Marina Silva – por mais que ele negue que o intuito fosse esse – foi comparada por um jornalista do sistema Globo, à Carta ao Povo Brasileiro, apresentada pelo ex-presidente Lula, na campanha eleitoral de 2002.
Seria necessário que Aécio Neves nascesse de novo e tivesse experiências de vida totalmente diversas das que optou por ter até o momento, para que seu documento traduzisse a abrangência da compreensão da realidade brasileira e abarcasse a amplitude das propostas então encaminhadas com tanta propriedade pelo ex-presidente Lula.
Não se pode dizer, no entanto, que a imprensa comercial familiar brasileira, que desde o início da campanha apóia abertamente Aécio Neves, tenha tido uma má idéia ao tentar içar Aécio à importância de Lula. O ex-presidente é figura respeitada pelos brasileiros de norte a sul do país, forjado na luta contra a ditadura, na experiência sindical do ABC paulista, na fundação do PT, e finalmente dirigindo a construção de um Brasil mais desenvolvido e menos desigual.
Na Carta aos Brasileiros Lula dizia, há 12 anos, que “o PT têm plena consciência de que a superação do atual modelo, reclamada enfaticamente pela sociedade, não se fará num passe de mágica, de um dia para ao outro. Não há milagres na vida de um povo e de um país.
Será necessária uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica…
Lula conhecia o país. Sabia que suas necessidades de mudanças eram imensas. Mas olhando pra trás hoje vemos que nos 12 anos de governos petistas o Brasil sem dúvida melhorou e muito e a este respeito os números não mentem.
Entre 2002 e 2013 nossos gastos com educação aumentaram de 17 bilhões para 94 bilhões; o PIB subiu de 1,4 trilhões para 4,8 trilhões; as reservas cambiais aumentaram de 38 bilhões para 375 bilhões; o desemprego caiu de 10,5% para 4,3%; a inflação de 12,53% para 5,91%; os juros de 24,9% para 11%; segundo dados do IPEA, Banco Mundial, e Orçamento Federal.
A carta de Aécio, além de se preocupar em defender como novas questões já desenvolvidas pelo PT no poder, abordou de maneira um tanto genérica alguns dos pontos reivindicados por Marina para lhe conceder apoio.
O candidato defendeu FHC e voltou a repetir a velha cantilena de que o PSDB ajudou o Brasil a reencontrar o equilíbrio econômico. “Não só fizemos a estabilização da moeda com o Plano Real, mas criamos instituições fundamentais para sua continuidade “ , afirma o documento.
Em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade, questões teoricamente exigidas por Marina para declarar seu apoio, o documento afirma que “o moderno agronegócio defende um programa efetivo de preservação da riqueza florestal visando ao objetivo maior de alcançarmos o desmatamento zero”.
Ora, não podemos negar a importância do agronegócio para o país, assim como não há como ignorar o incontestável avanço da fronteira agrícola em direção ao norte do país, onde se encontram as maiores florestas brasileiras.
Qual será o milagre que Aécio espera operar ? moderno agronegócio nunca foi sinônimo de desmatamento zero. A crer nisso teríamos que passar a acreditar também na existência de Papai Noel.
O último debate entre Dilma e Aécio, ocorrido na quarta-feira mostrou que Dilma tem conhecimento real do país e suas necessidades e entende, assim como dizia Lula, em 2002, que milagres não acontecem de uma hora para outra. É necessário ter rumo e saber como alcançá-lo, passo a passo.
Até mesmo adversários declarados do PT na imprensa como Noblat e Reinaldo Jardim reconheceram que Dilma venceu Aécio no debate da Bandeirantes. Em outras palavras, isso significa que ela conhece melhor os problemas do país e demonstrou saber melhor como e quais mudanças estão sendo feitas.
Mostrando bem seu estilo, Aécio foi grosseiro com a presidenta da república e chamou- a de leviana e mentirosa. Não deve ter sido a primeira vez que tratou mal uma senhora com mais de 60 anos. Típico de quem esta nervoso por não ter segurança de seus argumentos.
Se o eleitor brasileiro estiver cansado de tantas informações, de tantos desmentidos e de tantas acusações a respeito dos números oficiais do governo sobre os avanços ocorridos no Brasil nos últimos anos, basta um- incontestável- para que os governos petistas já tenham valido a pena.
Pela primeira vez na história desta nação, dados da Organização das Nações Unidas apresentaram um mapa mundi onde o Brasil não mais faz parte do conjunto de países marcados pela cor do dramático mapa da fome. Olhar os mapas anteriores e olhar o novo mapa deveria ser motivo de orgulho para todos os brasileiros.
Isso pode não representar muito para a elite que vota na elite e defende a política neoliberal colocada em prática por FHC e que certamente voltará com Armínio Fraga à frente do Ministério da Fazenda.
Trata-se, no entanto, de questão de vida ou morte para aquela parte da população brasileira que já passou fome.
Ver com alegria o Brasil fora do mapa da fome, faz parte do avanço da compreensão de boa parte da população brasileira sobre a importância das conquistas sociais como necessidade intrínseca da democracia. Democracia esta que todos almejamos aprimorar, em nome de um Brasil de e para todos os brasileiros.